A velhinha japonesa

Quando falei na minha coluna na Tribuna do Norte de caminhada, de exercício, e dizendo que caminhar era preciso, muita gente me mandou e-mails dizendo que tem preguiça, que é tarde para começar, que não tem mais saco, essas coisas que a gente diz quando quer uma desculpa para sabotar a si mesmo. Aí, eu me lembrei da história da velhinha japonesa.
Dona Mitiko, morava em São Paulo. Já tinha mais de 60 anos. Depois de longa enfermidade, na qual ficou meses acamada, estava toda entrevada e o médico recomendou-lhe que desse uma volta no quarteirão todos os dias, apoiada em alguém. E assim ela começou. Andou escorada num parente, depois começou a andar sozinha, começou a achar uma volta pouco, deu duas, deu três, e quando já ia em vinte voltas, toda faceira, toda serelepe, alguém sugeriu que ela se reunisse ao grupo treinado pelo Wanderlei de Oliveira, diretor do departamento de corridas de rua da Federação Paulista de Atletismo, técnico especializado em corridas de longa distância e pioneiro na preparação de grupos para a Maratona de Nova York desde 1982.
Foi isso o que ela fez, e graças a uma férrea determinação, passou a treinar no Ibirapuera com outros integrantes da equipe “Run for Your Life”. E assim, Dona Mitiko Nakatani tornou-se um ícone das corridas de veteranos no Brasil. Aos 73 anos é a atual recordista brasileira de quase todas as provas de longa distância e da marcha atlética na sua categoria. Faz 10 km em pouco mais de 50 minutos, treina cinco vezes por semana, numa carga total equivalente a mais de 200 km percorridos por mês.
É um dos programas interessantes de São Paulo ir ao Ibirapuera ver “a velhinha japonesa”, como é carinhosamente conhecida, treinar. Miudinha, com menos de um metro e cinqüenta, ela faz os marmanjões sarados das academias comerem poeira quando os ultrapassa, velocíssima. O seu exemplo é inspirador para muitas pessoas como eu que pensavam que seus dias de atividade física produtiva já haviam terminado.
Graças a esta história – e a amigos que me estimularam – estou freqüentando uma academia de ginástica onde treino duas horas três vezes por semana. Como não posso correr nem andar, pois tenho um problema ortopédico no pé esquerdo, faço bicicleta, alongamento e musculação. Durmo bem, as dores melhoraram, e fiquei tão forte que um dia desses, somente para me exibir, levantei nos braços uma amiga que pesa 42 quilos. Moro sozinha, não tenho empregada e cuido da casa sem ajuda, incluindo a lavagem da roupa, que faço sem usar máquina de lavar. Posso comprar a lavadora, se quiser, ou posso pagar a lavadeira ou faxineira. Mas é bom saber que aos 59 anos sou auto-suficiente e não preciso de ninguém para fazer as coisas para mim.
Consegui tudo isso com apenas seis meses de treinamento, partindo praticamente do zero. Malho na Prodígio Academia, na cidade de João Pessoa, onde moro agora. Sob o olhar cuidadoso de Victor Amorim, meu personal trainer, descobri que, ao contrário do que pensava, as academias não são lugares onde as pessoas vão exibir seus corpos sarados: lá elas vão em busca de saúde, bem-estar, disposição e alegria de viver. E, como a velhinha japonesa, eu sei e entendi que nunca é tarde para começar.

Clotilde Tavares

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