Desespero sem causa (calça)

              Maldito desemprego. Numa dessas tardes estava assistindo a TV. E entre uns “zaps” e outros me deparei com um programa popular, assunto: “Homens que para viver adotaram uma nova profissão, strippers”. Na platéia, homens casados, viúvos... gordos, magros... carecas... de todos os tipos e “espécies”, que realizam quaisquer fantasias, até as mais bizarras, cujo extremo mau-gosto é capaz de quebrar qualquer clima.
               Diversão, sadismo e poder. Essa é a tríade que completa essa mistura, consumida pelas vorazes mulheres na liberdade das “ex-diferenças sexuais” que impunham uma comportada dona-de-casa. E que hoje possibilita até para os mais desengonçados a oportunidade de defender o seu dinheirinho. Estou aqui para defender esses pobres homens. O passado acabou.
              Estava conversando com um amigo que trabalha no Clube das Mulheres. “Cara, o local é um zoológico”. Essa foi a definição dele. “As mulheres, urrando como animais, gritando... quase se descabelando. Perdem qualquer compostura exigida pela sociedade. Lá são livres para realizar as suas fantasias”. Fiquei curioso.
              Como é proibido a presença de homens, e queria fazer uma análise antropológica, ele me convidou para ficar atrás do palco observando a cena. O local estava lotado. Fiquei impressionado com a quantidade e a variedade de mulheres, e tive que dar o braço a torcer... Que zoológico!!! Das patricinhas lindas que estavam lá para satisfazer a curiosidade às despedidas de solteiras com a presença de toda parte feminina da família.
              Ao redor, muitas mulheres... e incrivelmente, as vovós de 70, 80 anos eram as que mais soltavam a franga!!! “Tira essa tanguinha, meu filho!!!”. “Vamos lá, rebola!!!”. Deixando as netas roxas de vergonha. “Pára Vó.... olha o vexame!!!!”, disse uma tímida neta. “Relaxa e aproveita, minha filha!!!”. Velha sábia. Sorte de quem sabe aproveitar.
              Certamente a vovó se sentia vingada. Poderia estar pensando: “O Mané sempre saiu para se divertir, voltava fedendo a cachaça e ainda reclamava se a comida não estivesse pronta”. Dava para perceber o riso interior. A satisfação de realizar o proibido, ou mesmo de poder projetar a imagem do seu velho num daqueles strippers. “Imagina só se fosse o vô que estivesse ali”, comentou uma neta. Será que ela captou o pensamento da “nonna”!?!. Homem velho-objeto.
              Voltei para casa meio desnorteado. Uma amiga ligou e me convidou para sair. Comentei o fato. E ela disse: “Guto, as mulheres estão virando o jogo. Chega de mulher-objeto, também temos o direito de nos divertir”. Discordei em parte. “Estão VIRANDO!!! Acho que já viraram”. E ainda tive que agüentar o discurso feminista. Paciência.
              Concordo que a liberdade seja proporcionada de forma homogênea, e também que os velhos tempos acabaram, mas tenho uma queixa: as mulheres andam muito agressivas e fazem de tudo para conseguir o que querem. Umas passam como trator por cima de tudo e todos, e outras, usam o charme e a famosa intriga.. mas também passam por cima.
              Como advogado dos pobres coitados, me incluindo, vejo que as mudanças de costumes estão realmente muito aceleradas. O proibido ontem, é o usual hoje. E os que rejeitavam são os primeiros da fila na hora das mudanças. Mulherada brasileira, os homens não são donos de ninguém, nem as mulheres. Podem descontar os anos de opressão, mas dentro das regras, ok!!!
              Muitas risadas e diversão... e os homens ganhando a sua grana, graças ao seu corpo. Intimamente pensava: “Aonde esse mundo vai parar!?!”. E me chocava com pensamentos da espécie: “ÉÉÉ.... não seria uma má idéia, para o bolso e para o ego”. O desespero fez os homens tirarem as calças, não para penhorar o pouco que tinham, mas para viver desse ato. Talvez realmente não seja uma má idéia. Se essa for a alternativa.
              Outro amigo estava com o bar quase falido quando resolveu entrar nesse negócio. O Ricardo sempre foi super machista. E tratou de se justificar: “Não que eu seja boiola, odeio homem.. vocês sabem. Mas com a crise não é para se ter restrições”. É verdade. Tudo é investimento e oportunidade de obter retorno financeiro. Se bem que, como amigos imperdoáveis, não perdemos a possibilidade de “sacanear” - assim são os amigos e para isso servem. “Ricardo, quem diria que um dia você seria sustentado por outros homens... heheh”. Maldade.
              O mais interessante foi uma história que ele nos contou. “Num dia desses entrou um senhor aqui... bem velhinho... se apoiando em uma bengala. Pensei que quisesse alguma informação ou ajuda. E não é que queria uma ajuda”. Ele disse: “Meu filho, tem uma vaga para stripper aí!!!”. “STRIPPER titio.... o senhor deve ter uns 90 anos e mal consegue andar, por que quer fazer isso”. “É a crise meu filho... e meu corpo é a única coisa que me resta”. Êta situação difícil. Mata o velho.

Fernando Lusvarghi

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