Quero a minha bicicleta

              Enquanto muitos contemporâneos andam por aí cavalgando suas Mercedes, ando pensando em comprar uma bicicleta. O vizinho apóia a idéia porque me poderá lembrar os tempos de adolescência. Ledo e cego engano.
              Não tive biciclet na infância nem na juventude. Lá em casa éramos treze. "Seu" Costa nunca teve folga para adquirir, numa só lapada, treze bicicletas. No máximo, andei em umas alugadas, por hora, se não me engano, de propriedade de um barbeiro em Sobral. Muito mais tarde, já cinqüentão, deixei-me fotografar em uma bicicleta, na Praça Navona, em frente ao histórico palácio Dona Pamphili, onde se aloja a embaixada brasileira. Quase vou ao chão passeando neste veículo alugado, por conta de um defeito na direção de que o proprietário não me advertiu. Pois é. Não tenho Mercedes nem tive bicicleta.
              Nem por isso anda apedrejando os que têm tais veículos.

Lustosa da Costa

Do livro: "Ao cair da tarde", ABC Editora, 2006, RJ/SP/Fortaleza
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