DESPEDIDA

Perdi muito tempo na vida pensando em problemas, em soluções e o tempo foi correndo, escorrendo por entre os dedos tantas opções e momentos que ficaram para trás.

Hoje ao ver seus olhos em uma foto senti um aperto muito grande no peito e tive a sensação de, talvez, não ter me dedicado um pouco mais à você. Se eu pudesse agora lhe fazer um carinho e lhe dar um abraço apertado...

Ah... quanta saudade!

Sei que fiz tudo o que podia por você, muitas vezes abri mão de muitas coisas para te dar mais conforto ou alegria, mas queria tanto fazer mais.

Nos últimos dias procurei te dar toda a atenção que podia, fiquei ao seu lado o máximo que pude, foi tão triste te ver partindo devagar, sua vida indo embora e eu sem nada poder fazer.

Acho que você gostou da comidinha gostosa que andei fazendo pra você né?

Arroz com fígado e legumes, você comia até sem muita vontade, talvez para me agradar.

E eu tive a oportunidade de conversar com você e até cantar, vi seus olhos já tão sem brilho sorrirem pra mim. Você enrugava a sobrancelha como quem presta uma enorme atenção e quem sabe até compreendia tudo o que eu dizia.

Lembro-me do dia que você nasceu, sua mãe – Tati – exigiu minha presença na hora de dar cria e eu fiquei ali olhando cada um dos filhotinhos. Quando você nasceu eu já sabia que você ficaria conosco, era o maior, mais forte, mais bonito, foi amor a primeira vista.

Pessoas más, espíritos ruins deram veneno para sua mãe e precisei cuidar de você e de seus irmãos quando tinham apenas 15 dias de nascido. Foi uma cena horrível ver todos os filhotinhos tentando mamar em sua mamãe já morta.

Você tinha seu preferido aqui em casa, mas esta pessoa se foi e nunca mais voltou para te ver, você ficou triste, depressivo, teve um tumor maligno, mas nós cuidamos de você e fomos recompensados com mais algum tempo de sua companhia.

Samira sempre gostou de você, não mais, mas talvez de um jeito diferente, cuidava, dava remédio para suas dores de artrite, dava banho, dengava, mesmo com suas birrinhas... E muitas vezes você só reclamava quando ela chegava para ganhar mais carinho.

Thiago também conversava com você e de uns tempos para cá era o responsável por dar comida à noite pra você, com isso toda a família estava mais perto de você.

Você nos deixou o Pingo, seu filho com a Lilica, que já tomou seu lugar a frente da casa e parece que, nesses dois dias já notou sua grande responsabilidade: AMAR E PROTEGER NOSSA FAMÍLIA.

Você foi o amigo mais fiel, mais amoroso, mais atencioso e dedicado que tive em toda a minha vida. Acompanhou-me durante muitos anos e sempre soube quando eu precisava de mais atenção, coisa que, talvez eu não tenha feito com você.

Você cuidou de mim e de minha família, velou por todos, protegeu, amou, um amor incondicional, capaz de relevar até as minhas mais altas broncas.

Eu não conseguiria ver você sofrendo mais do que sofreu nos últimos dias, foi melhor assim, você se foi calmo, tranqüilo, como um anjo que, cumprindo seu tempo, volta flutuando para os braços de Deus.

Obrigada meu anjo, obrigada, obrigada.

Que Deus te recompense por tanta dedicação, amor e bondade.

Vou amá-lo eternamente meu querido Negão, meu cão, meu amor, meu filhinho.

Fique com a gratidão e o amor de toda a nossa família e de sua Lilica e do Pingo.

Adeus!

Vera Vilela
20/12/2007 (dia seguinte à sua morte)

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