Turismo Proibido em Caicó


Foto: Hugo Macêdo
Torres do Castelo do Engady, Caicó RN.

A região do Seridó é uma das mais tradicionais regiões do Rio Grande do Norte. Com uma cultura riquíssima, o povo seridoense é muito apegado às tradições e aos costumes locais. Apesar da seca prolongada – período constante, quando o sertanejo  sofre mais com a falta de chuvas – o Seridó guarda recursos naturais quase intocáveis, como o açude Gargalheiras, em Acari ou a serra do Boqueirão, em Parelhas. O conjunto arquitetônico é muito antigo, preservado cuidadosamente em Jardim do Seridó e Curras Novos. Algumas edificações, mais recentes, chamam a atenção pela imponência e estilo. É o caso do Castelo Di Bivar, em Carnaúba dos Dantas e o Castelo do Engady, em Caicó.

O Castelo do Engady, construído pelo Padre Antenor Salvino, em 1974, é uma das principais atrações turísticas da região do Seridó. Edificado em estilo mouro-medieval, o castelo é mobiliado detalhadamente, com artefatos rústicos da época das cruzadas, misturando-se ao toque sertanejo. Ali, foi a residência oficial do padre por vários anos, e até um certo tempo, o local era conhecido como “o castelo do padre”. Hoje, funciona o Corpo de Bombeiros da cidade. Toda essa riqueza turística e cultural foi proibida para a visitação no último dia 17 de outubro, desiludindo alunos do ensino fundamental e médio, os quais foram aprender – “in loco” – sobre suas raízes. A “pretensa”aula de campo foi devidamente “autorizada” por um certo capitão Ulisses, do Corpo de Bombeiros de Caicó.

O Colégio Milenium, de Santa Cruz, enviou um oficio ao capitão Ulisses Vales dos Anjos, pedindo a autorização para a visitação de 48 alunos; entre eles, alguns professores e coordenadores do projeto. Por precaução, um telefonema foi dado um dia antes da
saída, ficando tudo acertado. Mas, no dia da visitação, o grupo foi impedido de entrar para a aula de campo, no Castelo de Engady, por um soldado não identificado. A pessoa que atendeu ao grupo trajava apenas uma camisa vermelha, sem identificação, e não desceu para receber as pessoas, (ficou falando de cima de um dos janelões do Castelo). Segundo o “tal soldado”, a corporação estava em “repouso absoluto” – já passava das onze horas – e ninguém poderia fazer o menor ruído para não perturbar o sono dos bravos apagadores de fogo. Como se aquilo fosse possível, conter em silêncio a frustração de dezenas de adolescentes cansados, famintos e extremamente decepcionados.

O Colégio Milenium é uma das mais tradicionais escolas de Santa Cruz, na região do Trairí. A aula de campo é uma das principais atitudes pedagógicas promovida pela escola, com a intenção de levar o aluno para conhecer mais de perto a história, geografia e cultura do povo potiguar. Há uma responsabilidade didática com os alunos, um respeito dos pais que confiam na escola, permitindo a ida dos filhos para as viagens de campo. Há também, um planejamento longo que prepara os alunos para a pesquisa, mostrando previamente o que eles encontrarão no sertão. E quando algo não dá certo, a escola arca com as conseqüências, não evitando os prejuízos, financeiros e psicológicos, causados pela quebra do compromisso.

É um absurdo que uma situação dessa ainda permaneça acontecendo no nosso Estado, quando o próprio governo, através da Secretária do Turismo, procura divulgar e incentivar o turismo regional, principalmente entre os norte-riograndenses. O despreparo do soldado e a falta de comunicação do capitão, entre seus comandados, são atitudes que devem ser evitadas, tanto para o bem da cultura, como também para o desenvolvimento pleno e sustentável do turismo potiguar. Turistas, estudantes, pesquisadores, professores e toda a sociedade livre devem ter o direito de conhecer e visitar o Castelo do Engady, em Caicó.

Alexandro Gurgel
(professor)

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