A Índia e o Brasil em Frankfurt

Na minha infância eu gostava de folhear um enorme livro, alemão, acondicionado em uma capa de fazenda azul, tendo no centro uma figura em dourado da estátua "Germania" . Pois na minha viagem a Frankfurt, atravessando uma floresta na margem do Rio Reno, de repente, me vejo diante de um monumento onde, estava a enorme estátua de Germânia – igualzinha a que ornamentava a capa do livro alemão.

Eu tinha passado toda a infancia sonhando em viajar, e estava agora realizando um dos primeiros sonhos curtidos durante toda a época de criança.

Frankfurt é um país calmo, com gente bem diferente do brasileiro – irrequieto, não muito apreciador da cultura universal; e eu, acostumada a exuberância da minha nacionalidade, dei um grande grito, quando vi sobre um monte de galhos quebrados, deslizando sobre as águas do rio Reno, o primeiro corvo da minha vida.  O meu grito assustou Traute, a prima da minha amiga Ingrid, não acostumada à estas manifestações.

Eu estava hospedada na casa de uma senhora romena, em companhia da mãe de Ingrid. Toda a manhã, eu saía para comprar duas bananas d´água, leite, pão e jornal.  A primeira vez que fui comprar o jornal e vi o jornaleiro ouvindo num pequeno radio música de Wagner, admirei-me e o cumprimentei por duas coisas: uma, por ser Richard Wagner, meu compositor favorito, e outra, porque, no meu Brasil, jamais veria um jornaleiro ouvindo Wagner...

Naquelas manhãs de Frankfurt, eu me admirava da quantidade de jovens com instrumentos musicais, percorrendo as calçadas da cidade, indo para as aulas de música... Quer conquistar um alemão?  Toque-lhe música.

Outra coisa que muito me admirei, foi a gentileza e preocupação com os alimentos para as refeições. Fui almoçar com D. Betty, em um pequeno restaurante.  Ali, duas coisas aconteceram:  D. Betty, alemã, pediu um peixe chamado matsya – eu, á meio curiosa, mas tendo uma leve instrução sobre "uma nação hindu-européia" ( já tinha me surpreendendo com lojas com o nome "Hansa" que quer dizer "ave" em sânscrito – veja-se a Companhia Aerea, Lufthansa – luft – ar – hansa – ave), perguntei com o coração na garganta, se, por acaso, "matsya" era um peixe... – Sim, respondeu D. Betty, é um peixe muito gostoso que tem por aqui... Naquele momento, eu só via a bayadera hindú, com suas duas mãos juntas, no mudra "Matsya", o mudra do peixe...  É que esses arianos entraram na Índia pelo norte, se fundiram com o povo Drávida da Índia Nativa, e trouxeram os Vedas. Esses eram os antecedentes do país onde eu estava.

A minha última surpresa estava por vir: foi quando eu disse para a germana gorda que nos servia que eu era vegetariana e não tocava em nada que fosse um animal morto... A simpática senhora mostrou-se muito preocupada: o que poderia ela me servir que estivesse dentro dos parâmetros nutritivos e não ofendesse meus principios vegetarianos?  Afinal, ela mesma encontrou uma solução para o caso, me trazendo muito gentilmente , uma refeição com espinafre e batatas, muito gostosa, e que não constava do menu do restaurante.  Surpreendi-me, porque quando digo que sou vegetariana, ouço sempre a mesma pergunta: então, o que é que você come?

Vi muitos indianos em Frankfurt: os acionistas dos elevadores, os garçons e garçonetes – me parecia que se davam muito bem... Lembrava-me da saudação nazista: – Heil! e da sanscrita: – Hare! E por que a Suástica, fora usada no governo nazista?  Dizem, que, a Suastica do nazismo, girava ao contrario da Suastica hindú...

É... o passado do nosso planeta ainda está muito obscuro...

O passeio no carro de Traute deu-me a oportunidade de subir no monumento Germania, e de lá contemplar uma curva do Rio Reno em que está o rochedo da Sereia Lorelay – o que me fez lembrar que no Rio Grande do Sul, colonizado em grande parte por alemães, o nome "Lorena" é muito comum...

Clarisse de Oliveira

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