Direto da Paraíba

Durante todo o mês de janeiro, de férias, fiquei em casa, lendo escrevendo, trabalhando. Passado o Carnaval, quando todo mundo retornou das praias e das viagens, é que me apeteceu largar a casa e sair de Natal. Isso se deve principalmente à minha pouca afinidade com essas atividades características da chamada “alta estação”, onde todo mundo só quer saber de Carnaval regado a cerveja e axé, muito sol, muita praia e muita balada. Nenhuma dessas coisas faz minha cabeça e fico tão deslocada como um vegetariano num churrasco quando, geralmente contra minha vontade e por dever de hospitalidade com algum parente ou amigo, sou obrigada a me integrar nessa procissão desesperada em busca do prazer que já tomou conta das capitais nordestinas nessa época.

Quando tudo passa, quando o Carnaval acaba, quando a vida retoma o seu curso normal, quando a paz volta a reinar nas ruas e é possível sentar na beira da praia à noite para olhar a lua sem ser assediada por milhares de vendedores ambulantes, eu tiro férias. E viajo.

Este ano fui a João Pessoa, na Paraíba, aonde vim encontrar velhos e queridos amigos, a maioria deles jornalistas, fotógrafos, escritores e músicos. Já fui ver o mar de Tambaú, onde a brisa quente e sensual do início da noite é diferente da brisa mais fresca e perfumada de Ponta Negra. Sinto falta de alguma coisa, quando estou na beira dessa praia e logo me lembro de que aqui não há a silhueta guardiã do Morro do Careca, a garantir meus sonhos sob as estrelas.

No Porto do Capim, lugar bem parecido com o Canto do Mangue, encontro o povo simples que foge do calor das duas horas da tarde no fundo umbroso das suas pobres casas, e vejo o rio Sanhauá, deserto e enlameado como uma paisagem pré-histórica, emanando vapores quase doces de tão pungentes, no mormaço da tarde.

À noite, no Bar dos Artistas do Theatro Santa Roza, curto uma “jam” com guitarras elétricas comandando a noite, capitaneadas por Alex Madureira. E no afã de ver todos os filmes que concorrem ao Oscar, descobri que nos cinemas da Paraíba o som é melhor, as poltronas são mais confortáveis e o ingresso mais barato. Cinema aqui, minha gente, é a melhor diversão mesmo.

Tem ainda a agitação intelectual das conversas no Sebo Cultural em torno de cerca de cem mil livros, catalogados, arrumados e livres de poeira. Das conversas sem fim que extrapolam as listas de discussão na Internet e nos levaram na sexta-feira passada, ao pôr-do-sol, em procissão lírica e desorganizada para o beco da Faculdade de Direito, onde o jornalista Petrônio Souto sonha em implantar a Confraria do Beco, sob o reinado da agitadora cultural Ednamay Cirilo Primeira e Única.

E no meu último doming fui até Lucena, onde saí em aventurosa companhia para ver e fotografar a Igreja da Guia, monumento espetacular de tempos primevos, plantado nas areias daquela praia. É a Paraíba, cheia de passado e de história, minha terra, minha pátria, onde preciso vir de vez em quando enterrar mais fundo minhas raízes, para que minhas frondes e frutos possam crescer ainda mais vivos e abundantes por sobre as terras do meu também amado Rio Grande do Norte.

Clotilde Tavares

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