GUERRA SANTA
 

Olhou sem emoção para as crianças que brincavam no parque, do outro lado da rua. Pais, avós ou irmãos deliciavam-se com os gritos de alegria da pequenada, felizes numa tarde cheia de sol. Ele, encostado ao quiosque, interiorizava os contornos da honrosa missão que lhe haviam confiado, privilégio de eleitos.
Treinado anos a fio para o papel que Deus lhe destinara, sentia-se grato e feliz por estar ali com tão nobre objectivo.
A viatura militar, carregada de jovens recrutas, parou junto ao quiosque. Como era habitual, pois o sargento-instrutor não dispensava o matutino que o entretinha ao longo do trajecto para o quartel.
Concentrado, aguardou paciente o momento ideal para vencer uma gloriosa batalha pela libertação do seu povo. O sargento, jornal na mão, olhou para os miúdos e sorriu. Entrou no veículo. Cheio de orgulho, o mártir pela causa detonou então os explosivos que trazia em volta da cintura.

Jorge Gomes da Silva

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