DAS BOAS

Ele estava na mesma esquina de antes, olhando para a avenida movimentada com o pescoço arranhado, fumando cigarro, esperando que alguma passasse. Era bom estar livre. “Enquanto estiver solto, pega uma das boas e faz por mim”, tinha lhe dito Julião na cadeia. Uma das boas... Para ele, qualquer uma poderia ser das boas. Lembrou de Sebastiana, a negra Sebastiana, uma garçonete que lhe ensinou tudo e foi a primeira. Parecia que tinha sido ontem. Ele ligava, ficava esperando e antes que descansasse, ela já estava em sua cama novamente.

Fodiam sem parar. Ele montava e cavalgava; ela montava e cavalgava. Depois vieram os pedidos – “me bate, me bate”, e ele bateu, e gostou. Cada dia a bater mais, Sebastiana a pedir mais, a gritar. As marcas das mãos como relevo em sua bunda; O travesseiro na boca para vizinhança não ouvir, era bom e eles gostavam daquilo. Ela gritava de dor e de prazer. Sebastiana foi a primeira, a melhor. Até que um dia, na sua frente, ela foi embora.

Era uma vagabunda mais ou menos comum, baixa, um pouco vulgar, que usava uma calça de lycra verde, feia. Passou do outro lado e ele chamou: “Psiu!” “oi.” “Quanto?” O quarto ficava perto e era dividido com mais duas. “Então por aí, circulando”, ela disse. “melhor”. Ali dentro já não parecia mais vulgar. Pagou adiante e ficou olhando pro espelho no teto. “Gostou?” “Das boas”, ele disse sério. “Das boas?”, ela sorriu. Qualquer uma pode ser das boas. Tudo foi indo bem, mas ela começou a gemer e a gostar, e então ele deu um tapa. Depois outro, outro, e mais outro. “Ai, não, ta doendo”. Ele batia cada vez mais forte. Ela começou a gritar, a chorar, a tentar se soltar dele. “Ah, me larga, louco!” Ele vai cada vez mais rápido. Puxa os cabelos, pega o pescoço, aperta bem, segura firme. Ela grita alto, chora, se desespera. Como é bom, ele nem lembrava direito. Bate mais. Aperta os seios, morde. Ela grita, mas não tão forte quanto antes. Por que não gosta? Ele aperta, sufoca, arranha, deixa marcas no corpo de mulher; rápido, entra e sai. Ela já não grita mais. Como é bom! Ele está chegando lá. Puxa os cabelos até quase arranca-los. Bom. Aperta o rosto contra a parede; segura o pescoço; entra e sai. Das boas. Pelo espelho ela não geme mais; nem sente dor. Ele está quase lá, está quase lá. O corpo vermelho por causa das tapas, está quase lá, está quase, ah!... ah!.... Ela não fala, não chora, não o olha mais. Ele larga e seu corpo cai desajeitado e pesadamente por sobre a cama de lençóis sujos. Das boas. Pega suas roupas e as veste rapidamente, pensando nas amigas dela.

No outro dia, foi à mesma esquina e ficou esperando que alguma passasse. Fumando cigarro, era bom estar livre. “Quando estiver solto...”, disse-lhe Julião. Para ele, qualquer uma poderia ser das boas. Com o pescoço arranhado, ficou olhando a avenida movimentada e lembrou de Sebastiana, a negra, a que lhe ensinou tudo. Aquela que um dia, na sua frente, foi embora. A primeira.

Rodrigo Menezes Melo

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