PRA MARLI, CARINHOSAMENTE
Era tarde, ela estava deitada, pés gelados, e eu não podia fazer nada por enquanto.
A não ser passar levemente a mão na sua testa, levantar, escutar algum barulho, abrir a porta da rua pra ver se tinha alguém batendo.
Depois voltar, fechar a porta com chave, não escutar barulho nenhum, deitar na mesma cama, passar a mão naquela testa de novo. Carinhosamente.
Pois o que mais me chateava era que elea vivia fazendo artes, aquela danada, e depois adoecia e não se importava com coisa alguma, aquela cachorra.
P. J. Ribeiro
Do livro: Interlocutando, Edições Totem, 2003, MG