os radiuns

                 São assim como curtas espirais, baixo a característica suprema de sustentarem-se ao ar das límpidas manhãs, pura paina, pêlos. Os radiuns são bichos tão misteriosos que dificilmente alguém, dentre eles, se deixa fotografar, autoanulando-se nos sues menos de três centímetros de comprimento por milésimos de espessura, fios argênteos.
                 Certos zoólatras dão que os radiuns se parecem muito com as microespirais da constalação de Andrômeda — elétricos, rabichos encaracolados de inpávida luz néon movendo-se aos milhares, aos feixes, aí onde o ar os abrigue, aos radiuns, com uma doçura de lavada atmosfera e altas estrelas.
                Temer, dos radiuns, a sanha primeva de levá-los para dentro da casa com o fim de guardar alguns deles no fundo do guarda-roupa; temer o terrer de que a sincopados movimentos de telégrafo sem fio desandem a emanar uma energia em todos os sentidos fatal.
                Seguidas as instruções de uso, todavia, observar dos radiuns a eloquência gráfica com que podem, no mais quieto da noite, desenhar o teu nome ardendo no escuro do quarto feito um artefato cósmico, e engalanado.

Wilson Bueno

Do livro: Jardim Zoológico, Iluminuras, 1999, SP

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