NO ESCURO ME PROCURAM...

Havia uma bruxa no escuro de meu quarto e eu só tinha sete anos...

Ela chegava sempre em sua velha vassoura e se multiplicava no escuro, entre meus medos , estava em todos os cantos, ocupava todos os espaços...

Sempre que as luzes se apagavam ela aparecia , uma figura medonha em suas vestes escuras e seus gritos horripilantes a me amedrontar, aterrorizar meu sono. Eu me escondia o máximo que podia e mesmo assim nada impedia que sua gargalhada, debochando de meu medo , me encontrasse gelada e estática debaixo de cobertores, a única arma que tinha contra ela...

Eram noites e noites a me perseguir, eu às vezes não a via, mas sempre ouvia seu bater de portas, abrir gavetas à minha procura em sons ensurdecedores...

Minha mente e meus sentidos a acompanhavam por todo o quarto, eu ouvia sua voz infernal na brincadeira do "quente ou frio" ela abria portas do guarda roupa, arrancava gavetas, atravessava por debaixo de minha cama e voltava voando por cima de mim em sua vassoura, deixando calafrios em minha pele, até que eu me dava por vencida, tremendo e chorando implorava para que fosse embora... ou que me levasse de  vez...

Inúmeras vezes me deitava em silêncio, devagarinho para que ela não percebesse que já era noite, mas de nada adiantava meu silêncio pois ela me encontraria sempre, eu era sua vítima favorita, o pavor estampado em meus olhos de menina medrosa a divertia tanto que ela nunca me faltaria em minhas noites escuras e solitárias.

Engraçado que eu nunca a encontrava em meus sonhos, depois que ela se ia e o cansaço me adormecia,  isso sempre me fazia pensar que eu tinha vencido a batalha daquela noite...

Hoje eu sei que foram batalhas necessárias, mas todas perdidas... não para a bruxa, mas sim para o medo... hoje eu ainda encontro a mesma bruxa, minha velha conhecida, estampada nos rostos que encontro em meus caminhos, nas esquinas, nas praças, nos bares, por aí...

Mas hoje há também os dias... claros, ensolarados, cheiinhos de cores para esquecer  lembranças de minhas noites de outrora...

Cida Sousa