Do meu diário

Hoje é Dia do Escritor. O pessoal das listas de Blocos já está se manifestando, dizendo, cada um à sua maneira, "parabéns para nós". Aí, eu chego lá e escrevo: "parabéns pra vocês!" Nego vai cair na minha pele... Daqui a pouco, vai haver gente pensando que faço gênero com a modéstia que Leila diz que eu tenho. Já pensei em fingir de morta, mas não posso deixar de felicitar meus amigos pela data. A terceira alternativa, incluir-me no rol dos homenageados, seria a óbvia e natural. Afinal, estou lá no meio deles, não estou? Então pronto, ora! Por que será tão difícil? Sinto-me como se estivesse me dando ares...

Como estou com ogros na cabeça, ocorre-me que uma de suas características é não ter esse tipo de problema. Um ogro, por exemplo, riscaria uns desenhos copiados ou medíocres em peças de cerâmica, contrataria duas mocinhas para pintá-las de acordo com suas rígidas instruções e produziria rapidamente um repetido e farto estoque. Ato contínuo, intitular-se-ia "artista plástico" e patrocinaria sua própria exposição de "faiança". Convites caros, bebericos e salgadinhos, os amigos e bajuladores fazendo-lhe rasgados elogios, a maioria puxada por ele: "vem cá, vem ver essa!". Finda a festa, o ogro voltaria para casa pisando nas nuvens, sinceramente convencido de ser um gênio imortal. Céus, estou ficando muito imaginativa...

Voltando ao meu caso, sempre considerei escritores assim meio que deuses. É claro que também ficava de olho comprido nos pintores, músicos e artistas em geral, mas era diferente. Nunca cheguei a sonhar, porém, em ser escritora, porque nem sonhar ousava. Confesso que, no decorrer da vida, fiz algumas poucas tentativas de "escrever bonito" — todas absolutamente fracassadas. Lembro-me de um texto que Silvie me mandou do Canadá há uns quatro anos, inspirado nos cristais de gelo que via pela janela da cozinha, e quase me matou de inveja. Não dá para acreditar o quanto ela viajou naquela imagem e com que poesia e delicadeza se expressou... Enquanto eu lia deliciada, pensava:

— Nunca vou conseguir escrever um troço assim!

E não conseguiria mesmo. Afinal, não sou a Silvie, nem fulana ou beltrana. Cada um tem sua maneira particular de sentir, perceber e transmitir. Só fui aprender isto com o Diário porque, nele, nunca pretendi e nem tentei "escrever bonito". Para minha surpresa, foi com meu despretensioso tom de conversa que conquistei alguns leitores e elogios.

Isso faz-me lembrar de Beto Barreiro, dono do Box 32, o melhor e mais badalado bar de Floripa. Um sujeito disse-lhe um dia:

— Vou fazer um bar lá em Porto Alegre com a tua cara!

— Vais quebrar — foi a resposta — para dar certo, tens que fazer um bar com a tua cara, e não com a de outra pessoa.

Pronto... Acho que agora já criei coragem para ir lá nas listas e entrar na festa dos escritores... Vou devagarzinho, como quem não quer nada, e deixo lá os meus abraços...

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PARABÉNS TODO MUNDO!...

                 Maria Emília Berthier