Santo Ivo, padroeiro dos advogados

O dia 19 de Maio foi dedicado pela Igreja Romana para louvar Ivo, a quem se lhe atribui a condição de santo padroeiro dos advogados. No século XII o homenageado, natural da Bretagna, estudou em Paris as artes liberais, filosofia, teologia e ciências jurídicas, tornando-se conhecedor das leis. Foi pelo Bispo nomeado Juiz-Eclesiástico e posteriormente advogado, tendo militado em diversas regiões da França durante os anos que se seguiram até a sua morte em 1303, com 50 anos de idade. Durante sua vida dedicou-se às causas populares, de interesse social e dos menos favorecidos da sociedade de seu tempo. Não era bem visto perante os poderosos e as classes mais  conservadoras, favorecidas pelas condições sociais da nobreza, pois no exercício de sua advocacia empenhava-se com bravura em favor dos que lhe procuravam em busca de seus direitos. Com sua morte, menos de cinqüenta anos após veio a ser canonizado, dado os comprovados milagres que os teólogos e especialistas lhe cometem e em especial, pelo exemplo deixado para que os operadores do direito, notadamente os advogados independente de credo que professem, venham acompanhar como postura em suas militâncias. Durante sua vida, Santo Ivo foi um exemplo de postura, retidão e probidade, lembram os  biógrafos de sua vida de sacerdote, juiz e advogado.
Oportuno pois, a par de comemorares a festa cristã em memória de Santo Ivo, atentar-se que o momento é  própria para  reflexão.
Atravessamos momentos difíceis da história brasileira. Nunca nos submetemos de maneira tão vergonhosa e servil a potências estrangeiras. Jamais abdicamos, como nos últimos anos,  valores inalienáveis e inerentes a soberania que paulatinamente estamos nos desfazendo. Patente claro pois que a função do advogado  na contemporaneidade brasileira, como até então jamais acontecera, trata-se atividade de singular importância  e merece a zelosa atenção desses profissionais para que não venham frustrar a expectativa da sociedade que se encontra ansiosa para se fazer ouvir.
Com as intermináveis reformas jurídicas, políticas e estruturais impostas arbitrariamente por uns em detrimento de interesses vivos da coletividade nacional ao advogado, individualmente ou por sua combativa corporação, se impõe o dever de porta voz do clamor daqueles que se debatem no desespero surdo e inteligível, na busca de soluções  as mazelas que estão por distanciá-los paulatinamente do bem comum objetivado pelo Estado ideal.
Com o crescente esvaziamento das atribuições essenciais do Poder Público, que escancaradamente está por violar direitos adquiridos, patenteados pela tradição inerente ao regime democrático, uma turba cada vez maior está engrossando as fileiras da exclusão social, na mesma proporção que o egoísmo do individualismo do capital  avança disfarçado de liberalismo transnacional modernista em prejuízo da sociedade pluralista, fraterna e solidária estabelecida no preâmbulo da Magna Carta.
Assim, diante desse quadro catatônico  através do qual privilégios estratégicos inerentes a segurança e grandeza do Estado nacional, estão sendo entregues a representantes de potências estrangeiras, causando males indisfarçáveis a sucessivas gerações vindouras, a independência do advogado e de toda instituição profissional, aliada ao conhecimento político, social e jurídico próprio de sua formação intelectual, se salienta com a obrigação de defender posturas éticas das autoridades em concomitância a defesa da preservação de valores e garantias fundamentais a pessoa humana e a real soberania nacional.
Somente a advocacia por meio da consciência social de seus profissionais poderá obstar a ditadura financeira exercida pela minoria conservadora, que desmonta não apenas o parque industrial gerador de riquezas e empregos, mas todos os valores morais inerentes a cidadania individual incentivadora do verdadeiro nacionalismo patriótico indispensável as nações.
Ao quadro descrito, ajunte-se ainda a situação calamitosa na qual se encontra o Poder Judiciário. Magistrados insuficientes, excessivamente assoberbados com estudos, enclausurados em palácios atapetados, se vêem obrigados a fingirem  não enxergar o clamor social, não tem como cumprir os objetivos constitucionais que lhes cabem, revelam-se cada vez mais distantes da população oprimida, que sofre desesperadamente atrás de sentenças que nunca são proferidas.
O país se tornou exageradamente injusto. Não há estrutura social, econômica e política digna dos anseios sociais. Não há justiça e o povo incrédulo, paulatinamente se afasta cada vez mais das autoridades de todos os níveis, revelando a descrença a valores morais. Mal tratada, com direitos elementares vulgarizados, a coletividade implora por novos rumos.
É pois adequada a data alusiva ao santo padroeiro, para pedir-lhe sua generosa benção  de modo que através de seu comportamento  legado, inspire a Ordem em todos os níveis e igualmente todos os seus inscritos a seu exemplo promoverem incessantemente meios de realização da justiça social cada vez mais distante e a defesa intransigente da pátria brasileira bastante mutilada pela fantasiosa globalização tecnológica que despudoradamente está por violentar a soberania já débil e moribunda.
Enfim, é oportuno invocar a Santo Ivo para que nos abençoe permitindo que possamos colaborar de modo eficaz para que  a tão procurada justiça seja decretada o quanto antes.

Roberto J. Pugliese (*)

___
(*) Prof. de Direito Civil da Faculdade de Direito de Joinville/SC, advogado militante.