Eclipse

Hoje a lua se tingirá de sangue.

Não haverá ovulação: Só o líquido menstruado tingindo seu vulto.

Hoje a lua não sairá prateada às ruas, nem resplandecerá aos olhares dos apaixonados. Hoje ela não será fada madrinha: apenas fêmea comum, naqueles dias.

Estará mal humorada, por certo. Culpa da TPM. Explodirá em rajadas vermelhas pois hoje ela é carmim-cereja-fruto proibido: maçã do Éden.

Nem do amor hoje ela não quer ouvir falar. Hoje ela só quer sentir saudades, curtir a nostalgia. Embalando o clima, quem sabe um Glen Muller? Um baile orquestrado, uma valsa de quinze anos, um vestido decotado; a vela na mão e ela sem par, com um modelo justo e avermelhado. Vermelho-rubro-sangue. Vermelho-raiva-triste. Vermelho-amor-paixão. Vermelho-veneno-saudade. Dói. Ai como dói!

A face cora sem “rouge” nem “blush”. A boca sangra os desejos de morango. Lembra-se do passado, quando era metálica, pálida, esquálida. Prefere ser Mar Vermelho que se admirar no espelho do Mar Morto.

Hoje a lua estará assim. “Yesterday” dos Beatles completa a noite triste, em que a lua sofrerá uma tentativa de morte. Veneno na lâmina afiada, enterra a adaga, arruína o corte. Hoje ela sangrará até o fim.

E eu choro: sua dor dói em mim.

Mas, pensando bem: vermelho é uma cor tão bonita!

Que tal uma música com trejeito tupiniquim? Pois afinal não há luar como esse do sertão!

Thaty Marcondes
05/05/04