O SONO DAS FADAS

Minha amiga Melissa Belo, de Formiga , MG,uma encantadora sobrinha emprestada pela Vida (que ainda não conheço pessoalmente), manda me contar que no dia dezesseis de julho, há a tradição irlandesa do “SONO DAS FADAS”: é a noite em que as daminhas aladas-representantes do elemento ar-escolheram para um sono reparador.

Assim, as pessoas podem fazer pequenos travesseirinhos recheados de ervas perfumadas e colocá-los pelo jardim, em especial, certamente, perto das roseiras, onde elas gostam de estar.

No dia seguinte é só recolher as almofadinhas, que além do orvalho, terão recebido os bons eflúvios das fadinhas. Transformam-se em amuletos de sonho...

Esse interessante costume antigo agradou-me porque nasci exatamente nesse dia. Dizem que entre luzes e orações, pois minha mãe, adolescente, na época, sofria tanto, que mandaram acender as luzes de S. José de Mipibu, no RN e todo mundo ajudou orando. Inclusive meu pai, que sendo mais velho que a esposinha dez anos, penalizado de tanto sofrimento, prometia, rezando no quintal, que ela não teria mais filhos se escapasse... Teve mais cinco. Todos programados porque adoravam crianças e quando o último dos filhos ia ficando maiorzinho, resolviam “encomendar” outro. Pararam apenas quando o último, nosso querido Juninho, veio, louro e especial, com Síndrome de Down e ela precisou de mais tempo para cuidá-lo.

Acho que nunca alguém teve mãe tão incrível. Gostava mesmo era de brincar conosco, nadar, cantar, sapatear, declamar... Mais tarde, tornou-se parteira, professora de Yoga. Quando partiu para a outra dimensão, estava tão cheia de vida que deve ter-se ido a rir do susto que lhe pregaram levando-a sem nenhum aviso. Era uma fada, acredito. Por isso trouxe-me nessa data. Aliás, Dia de Nossa Senhora do Carmo. Eu que seria hoje Carminha, por certo, escapei do nome comum porque, não havendo ultassonagrafia, então seria o “Cleber”. Nascida, papai, apaixonado, fez uma lista de nomes com Cle. Cresci sem ver ninguém com outro igual.

Noutro dia, pela Internet, vi uma, em João Pessoa. Era a feliz dona de um cãozinho. Mas muitas das crianças que mamãe trouxe ao mundo,ou ganharam seu nome, Terezinha, ou o meu e o de minha mana Cleone, em agradecimento à parteira delicada e competente que era.

Então, fiquei pensando... Será que porque nasci no Dia Do Sono Das Fadas aprecio tanto dormir?... Sonhar?... Tenho o imaginário tão povoado do fantástico?

Estarei fazendo 57 anos, tenho alma de vinte e sou bem feliz com minha imagem. Sem nenhum cabelo branco-herança de uma bisavó fazendeira, D.Constança, que era muito brava e montava num cavalo ajaezado de prata, indo de chicote na mão tomar conta da plantação de fumo. Por prazer, contava meu avô Luiz Máximo, paraibano sonetista, trovador e jornalista que colocava-me ao colo para ensinar-me o fascinante mundo da Poesia, as rimas, a metrificação... O outro avô, era maestro... Donde o ritmo natural que procuro imprimir a tudo que faço. Como criar filhos, por exemplo, além de escrever com espontaneidade... O verde, a Terra que tanto amo, são símbolos desse atavismo que me inspira inconscientemente, por certo, mas tão buscados pela consciência em perene expansão....

Por isso, ao receber essa carta da Melissa falando do sono das fadas, vêm-me tão deliciosas pessoas à mente... Ancestrais têm um lugar importante na fábrica de nosso modo de ser. Por eles, deles, SOU.

Clevane Pessoa