Pêra, uva, maçã ou beijo na boca?

Um rapaz conversa com três moças sem vê-las. Depois de algumas perguntas e brincadeiras, escolhe qual delas beijará. Esse programa acontece em uma emissora de televisão. Mas beijo na telinha não é novidade há anos; novidade é a banalização do beijo.

A moda entre adolescentes é beijar muitas pessoas diferentes, em uma só noite, durante as chamadas baladas. Pessoas que beijam muito tornam-se ídolos, principalmente se os beijos forem polêmicos, como aqueles protagonizados por Madonna, Britney Spears e Christina Aguilera, que há pouco tempo cantaram juntas no palco. Madonna beijou uma, depois outra. Não era carinho, talvez provocação ou autopromoção.

Fora os "selinhos", que os artistas dão para saírem nas capas das revistas, há também o "beijo técnico", que ninguém que não é artista acredita que existe.

Mas existe mesmo grande variedade de beijos com diversos significados, que vão desde o beijo no rosto ao beijo ardente. E muitos já foram classificados em um livro que indica os diferentes tipos de beijo, de acordo com respiração, posição da língua e até salivação - ou baba.

Deve existir nesse livro o beijo infantil, como o que eu dava nas brincadeiras, juro, inocentes quando criança. Na minha infância, nos anos 80, revistinhas falavam sobre o primeiro beijo e davam dicas de como beijar. E eu lia muitas, antes de saber que nenhum ensinamento é lembrado na hora fatal.

Mas me lembro bem da salada mista, b rincadeira em que pêra, uva, maçâ ou salada mista representavam o gesto que você daria na pessoa que estava na sua frente: aperto de mão, abraço, beijo ou "todos juntos". Salada mista virou beijo na boca. De olhos vendados, mas nem tanto, e com a ajuda do sinal de quem cobria os olhos, era fácil dar um beijo na pessoa que interessava.

Essa geração que se empolga com o beijo fácil certamente não se daria mal nos anos 80, mas não muito antes disso, como no fim da Segunda Guerra, época retratada no filme Cinema Paradiso. Em algum canto da Itália, onde não havia balada nem MTV, um velho cinema era a única diversão dos moradores da vila. Na hora do esperado beijo, a cena do filme era cortada, causando raiva nos espectadores. O padre assistia aos filmes antes e censurava cenas "indecentes" como um beijo.

O pequeno Toto, que freqüentava o cinema escondido, conheceu o projecionista Alfredo, iniciando uma bela amizade entre os dois. Não vou contar o final para quem não viu, mas é uma das cenas mais comoventes a que já assisti, e tem a ver com beijos.


Beijos de cinema são tão famosos quanto beijos de contos de fada, em que princesas como Bela Adormecida e Branca de Neve são acordadas com beijos de belos príncipes, rompendo os encantos das bruxas. Também tem sapo que espera beijo para virar príncipe. Esperado também era o beijo que Judas deu em Jesus Cristo para traí-lo.

Entre encantos e traições, o beijo também pode trazer doenças. No beijo há troca de diversas substâncias como água, sais minerais e muitas bactérias e vírus. Alguns desses probleminhas podem ser resolvidos com higiene bucal, tema de uma famosa propaganda de creme dental, feita com filminhos de pessoas se beijando.

Fora as substâncias desagradáveis, bom é que além do prazer que pode proporcionar, beijar pode ajudar a perder calorias, afinal, dizem que um beijo na boca mobiliza vários músculos, além de acelerar as batidas cardíacas, o que faz melhorar a circulação do sangue.

Se você não sente mais aquele calorzinho e o coração acelerar com um beijo, é melhor se apaixonar de novo por outros beijos para não correr o risco de ficar obeso.


Muitos beijos

Solange Firmino