O caminho da excelência

A integração com a comunidade é objetivo que deve ser perseguido por todos os que atuam de alguma forma na escola

Acreditamos que uma direção eficiente, professores valorizados e alunos incentivados são a base indispensável para fazer a educação acontecer.

A importância desses três elementos é a mesma, pois, se qualquer um dos pilares falhar, o processo educacional fatalmente será prejudicado.

Alfredo Bosi considera que "o professor do ciclo básico deve ser valorizado em termos de preparação e salário, caso contrário, os mais belos planos ruirão como castelos de cartas".

Qualquer profissional precisa de reciclagem constante — principalmente aqueles que militam com a saúde (um pequeno engano pode causar a morte do paciente) e com a educação (um professor desatualizado pode causar a "morte cultural" de seus alunos).

Vivemos o tempo em que o professor não é mais o único detentor do saber. Hoje, devemos ser guias, consultores, orientadores da aprendizagem, apoiando, acompanhando o trabalho da turma e introduzindo os ajustes necessários ao alcance pleno dos objetivos planejados.

O papel do professor mudou. Além da preocupação com conteúdos, ele tem por obrigação educar cidadãos capazes de pensar, de criticar e de construir as suas próprias vidas em uma sociedade cada vez mais complexa.

Já pararam para pensar que temos uma nova responsabilidade junto ao alunado?

Precisamos ajudá-lo a compreender e dar sentido ao volume de informações que recebe diariamente das mais variadas fontes: TV a cabo, internet, além dos tradicionais rádio, TV, jornais e revistas.

Hoje, os livros didáticos são menos considerados do que há 30 anos.

Os recursos para comprá-los são escassos ou os jovens não aprenderam a descobrir e desenvolver o gosto pela leitura, pois já têm uma gama de informações tão grande que dispensam descobrir a maravilhosa magia que se encontra dentro de um livro.

O professor precisa não só acompanhar os fatos atuais mas desenvolver, ele próprio, conhecimentos científicos e lingüísticos que lhe dê meios para analisar, interpretar e criticar para poder orientar os alunos a selecionar as numerosas informações que chegam.

Os profissionais da educação precisam estudar, ler muito (de tudo), participar de centros de estudo, de seminários e de conferências.

A modernidade não exclui as etapas essenciais de planejamento, desenvolvimento e execução, avaliação e reestruturação do que foi detectado negativamente.

Isso sem esquecermos do jargão de que todo planejamento precisa ser flexível, isto é, mutável a qualquer momento durante o processo.

Na educação atual, compatível com toda a tecnologia e desenvolvimento conhecidos, os protagonistas principais não são apenas aqueles já citados mas também os pais, familiares e comunidade, cada um assumindo seu próprio papel na escola e na sociedade.

A instituição escolar não pode e não deve buscar a uniformização dos estabelecimentos, nem quanto ao aspecto físico dos prédios nem quanto à transmissão do saber.

Cada escola tem sua história, suas peculiaridades e sua identidade, cada uma está inserida em uma comunidade diferente, com pessoas e anseios distintos.

É impossível, por exemplo, tentar unificar o tratamento dado a uma clientela estudantil do litoral nordestino, que vive num clima em que o sol está presente durante os 365 dias do ano, com uma clientela de alunos da região Sul, onde o frio pode determinar até a mudança do horário do início das atividades escolares.

A interação dos profissionais da escola (diretores, professores, funcionários etc.) com os pais, alunos, família em geral e outros agentes permite a elaboração de projetos que visam a melhor e mais completa formação do educando.

Não deve haver nenhuma preocupação dos gestores do ensino em relação à supremacia da escola, pois ela jamais perderá o seu lugar enquanto tiver bem demarcada a separação entre as suas atribuições e as da comunidade.

O importante é que o aluno ame a escola e seja por ela amado. Nessa troca quase bíblica é que reside o êxito do processo.

A integração com a comunidade é uma conquista, um objetivo que deve ser perseguido por todos aqueles que atuam de alguma forma na escola.

É essencial a criação de ambientes culturais diversificados, que contribuam para o conhecimento e para a aprendizagem do convívio social, levando à compreensão de todos os fatores que se expressam no ambiente escolar, sejam eles políticos, sociais, culturais ou psicológicos.

A educação dada na escola é sistemática, planejada e continuada, para uma clientela de crianças, adolescentes, jovens ou adultos durante um período contínuo (ano letivo), no qual todos os atores envolvidos no processo estão marcados pelos seus direitos e deveres, citados na hierarquia organizacional do sistema.

Arnaldo Niskier

Fonte: Folha de SP, 30/1/2006