A VOZ DO GOL

O estilo de transmissão dos locutores esportivos brasileiros chama a atenção em qualquer parte do mundo!
Os europeus, acostumados a fazer transmissões “de terno e gravata”, sem nenhuma emoção, estranham quando vêem aqueles indivíduos à beira de um ataque de nervos baterem recordes de controle respiratório, de fazer inveja aos “Pavarottis” da vida, ao se esgoelarem feito doidos para anunciar: “Goooooooooooooool!”, enquanto eles informam, educadamente: “Rete!” (italiano) ou “But!” (francês). Convenhamos: os sinônimos do inglês “goal” nesses idiomas também não ajudam grande coisa...
Nosso estilo narrativo é tão marcante, que havia um narrador francês que gritava “gooool!” nas transmissões locais e, por isso mesmo, era conhecido como “le brésilien” (o brasileiro).
Mas, nem só de gols vivem os locutores brasileiros: Nas transmissões radiofônicas, principalmente, a narração em cima do lance, tão minuciosa quanto rápida, quase alucinante, é emblemática, e sempre recheada de bordões.
Ah, os bordões... Cada locutor cria os seus ou recicla os dos outros. Assim, temos: do lugar comum à obra-prima, que se consagra na voz do povo. E como eles são pródigos nisso, meu Deus!
Faz sentido! Afinal, a falta de imagem obriga ao preenchimento dos espaços com a fala, o que não é para qualquer um. Assim, um bom locutor radiofônico tem que ser, também, bom de papo, criativo e rápido de raciocínio: recursos indispensáveis para manter a assistência, sobretudo quando o jogo está entre morno e sofrível. Aí vale prosa, poesia, anedota... Não é à toa que personagens como Ary Barroso, Antonio Maria e tantos outros fizeram história no rádio esportivo brasileiro.
Na televisão isso é mais difícil de ver e ouvir. Aliás, muitos locutores da “telinha” se perdem ao tentar fazê-lo... O festival de “abobrinhas” e lugares-comuns que se segue justifica o hábito cultivado por alguns, de baixar o som da TV e aumentar o do rádio...
Por essas e outras é que ainda tenho saudade do fantástico Geraldo José de Almeida, que era capaz de ressuscitar defuntos com a sua narração! Ainda ecoam em meus ouvidos seus: “Por pouco, pouco, muito pouco, pouco mesmo”, “Olha lá! Olha lá! Olha lá!” e a inconfundível pronúncia de “Barrrrrrbante”.
Nessa mesma nostalgia também se encaixam: Pedro Luis, Edson Leite e, a partir de “ontem”, Fiore Gigliotti, que foi o último representante da geração “romântica” dos narradores esportivos. Um grave acidente também nos deixou órfãos das performances vocais do “Pai da Matéria”: Osmar Santos, que teve sua capacidade de fala gravemente comprometida.
Por sorte, ainda podemos contar com a ironia corrosiva de Sílvio Luis, a precisão de José Silvério, a explosão marota de Dirceu “Maravilha”, o dinamismo de Cléber Machado, e a imensa capacidade do futebol brasileiro em gerar novos talentos, dentro e fora “das quatro linhas que definem o gramado”.
É... Nesse quesito somos campeões mundiais desde 1930!
E pelo menos nisso estamos livres do assédio europeu...


UMA AULA DE FUTEBOL

Foi o que recebemos, atônitos e, até, catatônicos, da seleção francesa, a partir dos 10 minutos do primeiro tempo.
Zidane foi, obviamente, o destaque, seguido de perto por Henry e Ribery ; mas, todo o time francês jogou de forma solidária, alegre, concentrada e objetiva, enquanto aceitamos sua marcação e ficamos tocando bola de lado, ou para trás. Quando Cicinho e Robinho entraram, já era muito tarde...
A atitude deles foi: “Marchons!” (marchemos!), enquanto nós ficamos deitados em berço esplêndido, na esperança de que escalação ganhasse o jogo.
Escalação... O Brasil tinha o melhor elenco da Copa! Mas, o que transforma um grande elenco num grande time, numa grande seleção?
Para saber a resposta basta olhar para o Felipão no Jogo Portugal x Inglaterra: o tempo todo gritando, gesticulando, incentivando e vibrando, como fez com o Brasil, em 2002!
Se ele estivesse no comando da Seleção Brasileira nossa sorte poderia não ser melhor, mas, no mínimo, teríamos um pouco mais de espírito de luta. E foi assim que ele conseguiu transformar o time lusitano, com uma ou duas estrelas, num grupo que acredita e se esforça do início ao fim do jogo, dentro de suas limitações e muitas vezes se superando.
Perdemos para uma seleção que mereceu a vitória, sem nenhuma sombra de dúvida, e que assume a condição de séria candidata ao título, desde que consiga passar pelo Felipão , o que, convenhamos, não será uma tarefa das mais simples.
Perdemos, mas a desclassificação não tira o brilho do futebol brasileiro, nem dessa geração de jogadores. Afinal, não dá para ganhar todas! Esse desfecho, e todo o seu prólogo, no entanto, aponta para a necessidade de uma ampla reformulação no comando do futebol brasileiro. Espero que alguns cheguem sozinhos à conclusão que já está na hora de abrir espaço para novas opções e possibilidades, pois, se o Brasil é pródigo em gerar craques, por quê não pode sê-lo, também, em outros âmbitos desse esporte? Com a política também não é muito diferente...
Levamos uma aula de futebol! Agora vamos ver se aprendemos alguma coisa...
Pois é... A Copa, para nós, acabou, mas a vida continua e ainda temos muito que fazer para transformar nosso país num lugar decente para se viver. E isso é muito mais importante que qualquer título esportivo nacional ou internacional!
Aliás, futebol é bom, mas, bom mesmo é: amor, família, trabalho, comida na mesa, capacidade de sonhar, chance de concretizar e paz de espírito, tudo com as benções de Deus!
O resto? Daqui a quatro anos tem mais...
Até 2010, rumo ao hexa!
E se alguém tiver que ser campeão em 2006 que seja, na matemática da dor-de-cotovelo, quem tiver menos títulos “em caixa”... Portanto: Boa sorte, Felipão! Mas, se não der: “Allez les bleues”!

Adilson Luiz Gonçalves