O OUTRO LADO DO SILÊNCIO

Preparava-me para ir ver o jogo do meu clube quando, estranhando a demora do amigo, resolvi telefonar-lhe. “Meu Caro, liga aí a televisão, o bicho ta pegando. Derrubaram até um helicóptero da polícia. Acho melhor a gente deixar para a próxima". Liguei a televisão, vi as cenas e achei melhor ficar em casa mesmo. No entanto, esses acontecimentos e muitos outros me remetem a reflexões constantes sobre a natureza do mundo e dos homens enquanto espécie. Numa de suas palavras mais contundentes, Jesus disse que o espírito do mundo não conhece e nem pode conhecer a verdade. De fato, a brutalidade e a estupidez me surpreendem tanto que acabo pensando por vezes se não sou eu o estúpido. Há poucos anos atrás fui parar num mosteiro, deprimido, achando que Jesus perdeu a viagem vindo salvar os homens. Dormi por lá entre monjes e mendigos. Nasci poeta, embora isso hoje, devido a urgência da vida e sua contundência, eu deixe de lado, ou mesmo completamente de lado. Estou tem muitos  anos tentando ajudar o país que vivo e seu povo, com sucesso relativo, digo relativo porque devido ao tamanho da evidência eu presumia que as sementes lançadas dariam frutos doces. Ledo engano. Vejamos na prática como isso sucede.
Em 2002 eu pertencia a uma instituição e resolvi expor por lá minhas obras a preços módicos e aproveitando para dar trabalho a algumas pessoas. Na época, além de autor era editor. Preparei a festa e se não fossem meus amigos de outros lugares, estaria perdido. Para os membros da casa não vendi um livro sequer, tirando o “pastor” que claro não poderia deixar de fazê-lo. A minha intenção era apenas fazer algo produtivo e útil; sinceramente, não sei qual era a intenção daquele povo bisonho, que apareceu e ficou olhando “o evento” feito para eles, sem participar. Essa semana eu andei tentando divulgar algumas idéias que tenho para melhorar a educação; idéias perfeitamente executáveis e sem custos, praticamente. Recebi um email de um dono de site que “se preocupa” com o subdesenvolvimento dizendo que achava “excelente” desde que não pusesse meu nome. De novo fiquei sem entender e nem respondi o email.  Como posso fazer um trabalho e não assinar o feito, ainda mais que a coisa ainda precisa de mais desenvolvimento e participações para ter a forma acabada e perfeita? Em outra rede que propus discutir o assunto, simplesmente me deletaram, depois de deixarem meu tópico a míngua. Os Episódios entre eu e “o mundo” são muitos. Lembro que uma vez, e não foi apenas uma, mas essa foi marcante, eu que costumo andar vestido de forma displicente, talvez pareça até pobre por vezes, mesmo sendo um dos homens mais ricos que conheço, capaz de ver Deus num inseto e a eternidade nos escritos de Santa Tereza, entrei numa loja para comprar uma garrafa d'água e pote para gelo. Estava todo feliz, pois adoro esses programinhas de 1,99. Levava minha bolsa a tiracolo que era para trazer tudo quando percebi, envergonhado, que a vendedora me olhava atentamente pensando que eu fosse ladrão. “Meu Deus, que mundo é esse”,  pensei envergonhado. Meu coração, puro e inocente, sendo ali avaliado como se eu fosse um ladrão de plásticos. Fora as vezes em que tinha gente querendo me “ensinar” doutrinas e tive até que me afastar de lugares, pois contra a ignorância não existem argumentos. Gente que nunca leu Platão querendo me dar aula de filosofia. Só vendo um filme de comédia para relaxar.  Mas o que quer dizer essa crônica choramingas? Que simplesmente o mundo é freqüentado por espíritos mesquinhos, na maioria.  E não devemos estranhar quando eles, “os  espíritos do mundo” nos deixem solitários e incompreendidos. Ou mesmo quando queiram esconder nossas boas obras. O mundo tem mais ladrões do que santos. A verdade é esta.
Só Deus sabe quanto a gente vale.  Então, se você faz alguma coisa que tenha valor e o mundo te sacaneia, você tá no caminho certo. Se você convidar pessoas para visitar crianças no hospital do Câncer, provavelmente irá receber um monte de sorrisos amarelos; se você convidar pessoas para falar mal de outras pessoas, você poderá abrir uma igreja de fofocas em três dias. Ou menos.
Por isso que certos artistas se calam. È preciso ter muito mau gosto para gostar de aparecer.
Eu próprio tenho síndrome de Greta Garbo. Só estou esperando a primeira chance. O outro lado do silêncio é que alguns artistas desconfiam do mundo.  E a recíproca é verdadeira. O mundo gosta mesmo é de abater helicópteros.

Marcelino Rodriguez