Sobre Uma Vida Aberta - Carta aberta a um mundo que precisa desesperadamente de Amor
 
Recebi uma mensagem de Laisa, uma pessoa muito linda, que meu querido amigo e Al Valletta me apresentou. Essa mensagem me chegou às mãos no exato dia em que meu mundo veio abaixo, talvez pela centésima vez. Quer dizer, hoje.

O que vou escrever abaixo significa, mais uma vez, abrir a porta da minha vida e dizer: "entrem - vejam". Escolho viver em uma vitrine. Não me interessa a mentira de se esconder e fingir.

Por que? Porque não quero ser "reservada" em um mundo como o nosso, no qual as pessoas que são humilhadas e massacradas têm vergonha de mostrar aos outros o que sentem e o que vivem. Tem gente demais sofrendo sozinha agora mesmo. Há milhares de pessoas passando exatamente pelas mesmas coisas que eu, e que se sentem desencorajadas, desanimadas, desesperadamente sozinhas. Quero que tudo isto que compartilho aqui sirva para que algumas delas possam dizer: "Eu também sou assim. Eu também estou passando por isso. NÃO ESTOU SOZINHA!"

Porque acima de qualquer coisa que se nos aconteça, a pior é este pensamento de absoluta solidão, quando os enormes problemas da vida se nos caem, e, no nosso desespero, não somos mais amáveis, gentis, lindos, amorosos. Quando soqueamos as paredes e chutamos até o cachorro, em pura frustração, e as pessoas nos olham com desdém porque não estamos "segurando a barra". E até os assim-chamados amigos se afastam em horror, porque não mais somos simpáticos e agradáveis, e precisamos mais do que podemos dar. Porque não temos nada mais para dar, e desesperadamente precisamos de um abraço que não peça nada em retorno. Porque não temos mais nada para dar em retorno a não ser a promessa de também sermos, algum dia, um ombro a alguém mais.

Escrevo, então, para aqueles dentre nós que são, agora mesmo, desagradáveis, desamorosos, amargos, tristes, inconsoláveis, revoltados - porque seu mundo, de alguma forma, também desabou. Compartilho então o desabamento do meu, para que esses que assim estão não mais se sintam sós.

O que a maioria de vocês não sabe, é que vivo entre as paredes de meu escritório, trabalhando na frente do micro. Sai dia, entra dia. Sai noite, entra noite. Raramente saio. Não tenho muito tempo para conhecer novas pessoas, nem fundos para gastar em diversão.

Meus antigos amigos, as pessoas que conheci no decorrer de meus 17 anos aqui no Brasil, nao me aceitam mais desde que meu casamento se desfez. Alguns porque são crentes e, desde então, me declarei abertamente como bruxa; outros porque não tenho mais tempo para ser como todo mundo - tenho que lutar o tempo todo, sem descanso. E é difícil relaxar quando as bombas caem de todos os lados. Eu bem sei disto - dois de meus filhos são soldados nos Estados Unidos. Um deles está em local indeterminado agora mesmo, em meio às bombas - as de verdade.

Durante o dia trabalho tentando levar em frente minha micro-empresa, ainda em formação, que produz comida TexMex. Isto significa que precisei começar uma nova vida depois dos 50, sem ajuda alguma a não ser a que meu outro filho soldado, David, me dá, com seu pouco tempo e seu parco soldo.

Nesse trabalho, preciso lutar constantemente contra a concorrência da própria pessoa que me tirou absolutamente tudo – meu ex-marido Manuel, que foi embora há mais ou menos dois anos e levou consigo tudo o que construímos juntos em 15 anos, e se juntou com alguém mais. Ele levou até meu carro. Até a casa não está no meu nome nem no nome dos filhos, e ele pode tirá-la de nós quando quiser. Pelo menos as crianças ficaram comigo, mas ele também me deixou todas as dívidas de nossos quinze anos para pagar. Não tenho como reclamar na justiça - a renda dele é quase toda ilegal. Não tem nada que se possa
provar do que ele ganha. Ele dá o que quer, quando quer, e se quer, e com terríveis impropérios, e apenas se eu lhe mendigo.

Lugar comum, esse. Sei que muitas mulheres que estão me lendo agora mesmo conhecem isto de primeira mão. Mulheres maravilhosas, cuja falta foi não serem mais novidade para o homem a quem um dia confiaram até a própria vida.

A nota mais irônica de tudo, porém, é que meu ex marido é crente - e, como já afirmei, todos nossos antigos amigos, que pertenciam a diversas igrejas, ficaram do lado dele quando a coisa desabou. Afinal, eu sou bruxa - quer dizer, pertenço ao demônio! Para merecer ser tratada como gente, preciso ser um deles. E não importa o que ele tenha feito, ou faça, tem o apoio quase unânime de todos os que um dia foram meus amigos. Afinal, ele é o "salvo"... eu não. Ele vai pro céu... eu não. Na hora "H", ele só tem que dizer: "desculpe, Jesus" e está no paraíso.

E há quem queira que eu acredite NISTO?

Escolho Walhalla - o paraíso dos deuses pagãos, onde habitam as mulheres Guerreiras. E onde um homem precisa dizer e fazer mais do que proferir um "desculpe" meia-boca e de última hora para poder entrar.

Continuando a saga:

À noite, trabalho nos meus livros, que já empacaram em 3 editoras por falta de escrúpulos das mesmas, sendo que uma, bem conhecida, ficou com os direitos autorais de dois de meus livros sem nunca mais se manifestar, responder meus e mails ou telefonemas.

Inclusive tive que lutar pelos direitos autorais de meu primeiro livro, "Heavenly Elite", que um missionário cristão e ex-diretor de uma entidade cristã registrou como sendo dele e tentou publicar em seu próprio nome lá nos States. Bom, ele é "salvo"... Vai pro céu. Depois de alguma labuta, recuperei meus direitos autorais. O céu deixo para ele.
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Agora, finalmente, encontrei a Ed. Blocos, composta por gente como eu, ou seja, já calejada pelos socos e bofetadas do mundo editorial e do mundo em geral, e estou publicando com eles. Leila Míccolis, editora, escritora, roteirista e Mulher com M maiúsculo, tem sido a pessoa que mais tem me encorajado e auxiliado no campo literário. Porque não importa quantos prêmios, medalhas, taças e etc eu tenha recebido por meus trabalhos em diversos países, tanto escrevendo em inglês quanto em português - nada disto vale coisa alguma em uma sociedade de pseudo-arte.

Enquanto isto, tenho uns poucos amigos que me ajudam a segurar a barra emocional e mágica - os que não meteram o rabo entre as pernas e fugiram perante a enormidade do fardo que carrego sem descanso e sem tréguas. Os que não exigem sorriso constante e nervos de aço. Os que nao torcem o nariz quando não tenho para onde me virar e então simplesmente me desabo. Meus amigos, que estão comigo há muitos e muitos anos, a maioria porque também conhece o turbilhão. 

Acima de tudo, tenho ao meu redor uma hoste de seres de um mundo superior ao nosso - que não vão lutar minhas guerras, nem carregar meus fardos, mas que me dão as forças para continuar, e me estendem dedos mágicos para abrir as portas que o desamor do homem trancou.

E se eu posso, caros, aqueles dentre vocês que estão passando pelo turbilhão também podem. Vamos levantar a cabeça – há uma maravilhosa LUZ brilhando para além das nuvens escuras que turvam nosso céu (o verdadeiro) agora mesmo. Basta continuar à frente.

Dalva Agne Lynch

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