PANORAMA DA PROSA BRASILEIRA
CONTEMPORÂNEA - VOL. 1

FLAVIO GIMENEZ – Sou Flavio Gimenez, nascido em agosto 1956, em São Paulo, um mês ventoso e frio que nunca foi meu forte, pois amo o sol. Desde pequeno escrevo, mas ultimamente deu pra sair um monte de escritos de mim, como se filhos fossem e como dói parir tantos assim! Estudei em colégio caro, o Bandeirantes e acabei escolhendo a carreira de Medicina pois acredito no ser humano e na cura de seus males. Acho que foi para curar meus males que empunhei o jaleco e o estetoscópio! O Médico Ferido cuida melhor dos outros, pois cuida de si próprio. Isso sei na própria carne! Sou casado com uma moça que me deu duas lindas filhas que estão no mundo, assim florescendo enquanto eu observo e escrevo. Tenho 52 anos e muitas lembranças! Tive um pai maravilhoso que sabia escrever como poucos e minha mãe prestimosa que nos deu guarida e força. Esse sou eu!

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          Flavio Gimenez Bicho-de-sete-cabeças

Flavio Gimenez A velha ameixeira

Flavio Gimenez O gosto da maçã


O GOSTO DA MAÇÃ

Santa Rotina de Todos os dias, estes em que tudo é fugaz e veloz. Acorda-se a jato, depois uma rapidinha, banho breve quase a seco, um café mal engolido e a corrida ao batente, onde tudo se faz em flashes rápidos, em pacotes de informação instantâneos...

Precisamos pensar nisto tudo. Se não a saborearmos, como saberemos de que é feita a maçã?

Santa Rotina, essa que nunca me abandona, nem em pensamento! Qual vento uivante, passa o avião próximo demais da cabeceira da pista, onde milhões de automóveis se enfileiram, numa procissão interminável de buzinas e um desperdício de bilhões para a economia estagnada nos tanques que se evaporam.

Todos em extensa correria: aparentam não acreditar que você passa lânguido, ao largo, olhando as formas que bruxuleiam na névoa de vapor de gasolina, como se lente espessa deformasse a visão ao longe. Já ouvi até de uma senhora respeitável, com sua sacolinha a estibordo, um sonoro:

– Vai trabalhar vagabundo!

Ninguém se vê nesta terra seca. Nordeste? É aqui. Caatinga de emoções, deserto do desejo e da paixão. Esta linda cidade cinzenta não passa de uma ilusão encaixotada pelos princípios do poder monetário que te faz comprar e te satisfaz com os objetos do desejo de consumo da porcariada com que se comprazem os seus viciados neófitos.

Vai trabalhar vagabundo. É o que dizem os olhares dos prisioneiros do consumo, dentro dos milhares de táxis engarrafados há horas, em marcha lenta (você passa pelo mesmo carro uma, duas, três vezes e ninguém sai a caminhar...). Santa Rotina de Todos os Dias. Precisamos desacelerar nossas consciências, deixar de pensar no momento de agora e cultivar nossas melhores lembranças, que é o que deveria nos mover, deveras.

Não digo viver no passado ou de glórias já findas. Digo cultivar o que de melhor fomos para saber o que melhor seremos. Não se trata de um olhar ressequido sobre o passado que queremos relegar a um segundo plano, como se maldito fosse. Não. Trata-se de mais que isto, pelo bem de todos nós.

Viva o sabor das cores do dia, eu recomendo. Trabalharei sim, não porque a senhora quer. Porque preciso, mas não agora.

Agora, quero saber e saborear o gosto da maçã.

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Flavio Gimenez
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Francisco Malta