Guerra Santa

Pelas terras abençoadas ao Médio Oriente, o Cristão lançará homens armados com paus-de-fogo e matará milhares de bípedes pensantes.

Na agitação das almas penadas, em sentido contrário à ilusão, caçoará do restante da humanidade com seu gesto patife e nenhuma razão.

Demonstrará, em sua tola busca pela solução da quadratura do círculo, como é possível assar milhares de crianças em fogo lento, num verdadeiro genocídio de nossos pequeninos irmãos.

O quadrúpede, dono do exército de mil homens, abençoou seu povo com auto-de-fé e brindou novos tempos com seu grito de guerra: “Morte a Saddam, esse porco nojento!”

Blasfemou, entre vacas e ovelhas, na estrebaria em seu rancho texano de solidão, o quão seria imortal se matasse o iraquiano a quem chamou de filho de um cão.

Poucos acreditaram em sua idiota versão!

Debaixo das sandálias dos seguidores do Alcorão, há crianças e mulheres temerosas pelos presentes incandescentes que lhes cairão à cabeça, por possuírem mar negro despovoado de peixes, crustáceos e estrelas-de-verão.

Sob seus pés há fortuna, gás e petróleo de montão. Razão da cobiça do amaldiçoado Cristão.

É a própria morte espalhando energia sob cascos de navios encalhados em mar de prospecção. Somente isso interessa ao poderoso irmão.

As Nações Unidas serviram à espionagem sobre as defesas dos seguidores do Alcorão, na contra-informação de que Saddam não teria gás letal na carnificina ao povo ocidental.

Informaram a todos: “O Iraque não possui arma química de exterminação em massa.”

A seita da inverdade pouco fez da inocente afirmação, ingleses e americanos bombardearão Bagdá e a morte será apenas palco de show luminoso de televisão.

— ”Boa noite! Esse é o Jornal da Record! Boa Noite! Está começando o Jornal Nacional! Boa Noite! Essas são as notícias que estarão nos principais jornais de amanhã: Os Estados Unidos bombardeiam Bagdá!”

Sob as luzes da ribalta, pés e mãos não mais farão parte de crianças sorridentes que antes brincavam de amor, na batida fraterna do coração.

Corpos em chamas arderão. Haverá um dedo solitário que apontará o peito de cada um de nós e Big Brother falará em cadeia internacional: “Tio Sam precisa de você!”

Alguns ainda acreditarão! E a Rússia concordará.

Debruçados sobre o mapa das nações, na divisão do lençol de petróleo, haverá três senhores que a todos dominarão: americanos, ingleses e russos, nossos eternos patrões.

E finalmente o povo árabe se unirá. Na guerra santa, grande parte da humanidade sucumbirá.

Num lamento, entre morte e breve nascimento, uma lágrima cairá d’outro lado do universo, onde a solidão teima em beijar a face do Santo-Imperador: Deus está chorando.

Seus filhos exterminaram crianças, sob vistas cegas de outros homens. A oração cabe ao orador: “Somos feitos à imagem e semelhança de Deus Pai, nosso mestre e criador!”

Talvez não tenhamos sido bons alunos! Talvez nossas almas sejam demasiadamente impuras para crermos em lições de amor! Talvez ele não tenha sido nosso professor!

Douglas Mondo

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