Por onde caminham os sonhos

"Gire o carrossel dos dias
trazendo novas miragens"
Astrid Cabral

              Na sociedade em que vivemos, é comum questionar a utilidade das coisas. Ou seja, o valor de algo ou até de uma pessoa passa a ser determinado pela sua serventia. Como estamos regulados pelo sistema capitalista, onde quase tudo se transforma em mercadoria, não causa mais espanto — vai até se tornando normal — palavras como inativo para designar um trabalhador aposentado. Nessa ótica, vão se criando conceitos, imprimindo padrões, impondo comportamentos que nada mais são que reprodutores do atual sistema. Tudo passa a ser descartável.
              O que sobra então: O que nos resta, enquanto seres pensantes? Este tem sido o grande dilema, a luta diária e incessante pela sobrevivência e a manutenção dos sonhos que projetam a vida para além.
              Paradoxalmente, viver com dignidade e feliz, que deveria ser natural, passa a ser o maior desafio da humanidade. A máxima, o sol nasce para todos, cai por terra quando deparamos com a desigualdade social - que é consequência deste tipo de sociedade. Não se trata simplesmente de ser a favor ou contra o sistema capitalista, mas de perceber a olho nu que ele nunca possibilitará a inclusão de todos na partilha da riqueza — que não é pouca!
              O pior de tudo é que o modelo dessa sociedade vai se constituindo, através dos meios de comunicação de massa e da repressão explícita ou velada, como única via possível e viável. Não é por acaso que todas as tentativas fora desse sistema foram violentamente atacadas. Sem dispensar a necessária crítica às experiências socialistas, a derrota destas (pelo menos por enquanto) foi condição necessária para a prosperidade do capitalismo e sua expansão no mundo.
              O modelo atual de produção, sustentado pelo trabalho alicerçado na competição, difundido pela cultura e legitimado pelas regras do Estado está na base desta sociedade. Estabelecendo formas de relação entre os indivíduos, entre as classes sociais, criando estruturas de poder e propriedade, determinando o ritmo do cotidiano e das nossas vidas enfim. Por isso é tão difícil atacá-lo e derrotá-lo.
              Há de chegar o dia em que a vida terá mais valor que os objetos. Que a igualdade social e a felicidade do povo não serão apenas estórias de contos de fada.

Dinovaldo Gillioli

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