Etéreo (*)

O que é etéreo? O dicionário diz que etéreo, no sentido figurado, pertence à esfera celestial, é divino.

Deve ser mesmo. Assistindo a um espetáculo pude sentir a presença do etéreo várias vezes. Era aquela moça que voava sobre nós como se estivesse brincando. Eram aqueles rapazes que faziam muita força, mas com o semblante de quem o faz por prazer.

Como deve ser bom para um humano, voar. Voar sem necessidade de asas. Voar com a coragem do espírito. Se atirar de uma altura absurda, mas com tanta graça e leveza que torna-se etéreo. Alguém também brincava com fogo. E fogo grande. Mas conseguia ser uma presença branda apesar do perigo. E a força, como pode um homem pular com um braço só?! É incrível a capacidade do ser humano. E aquelas meninas, que quando se contorciam provocam muitos “ós” e “uaus”. Em alguns momentos achei a cena estranha, até deixou de ser etérea. A pessoa parecia ao contrário. Do avesso. Mas o rosto, o sorriso, nem parecia que estavam no extremo da capacidade física.

E os palhaços, que artistas fabulosos! Não eram aqueles palhaços tristes, ou sem graça. Eram muito engraçados, porque eram infantis. Etéreos como uma criança.

Teve um palhaço que começou sim brincando, mas terminou com um lindo drama de quem estava sofrendo com o frio, e por mais incrível e montado que fosse, todos da platéia fizeram parte da cena, porque em determinado momento só víamos uma luz, e ele, sofrendo com um vento cortante que chegava forte até nós trazendo neve, neve de papel, neve etérea.

E o apresentador, não precisou abrir a boca! Reinou absoluto com sua presença forte e marcante só com olhares e movimentos. No começo achei aquela figura muito estranha, parecia uma joaninha macho gigante com uma corcunda, mas ao longo do espetáculo, percebi que ele era o rei e também percebi que ele era etéreo, como todos os outros.

Como pode meia dúzia de pessoas comandar um espetáculo sem precisar falar nada, e mesmo assim, comunicando-se com quinhentas pessoas em absoluto entendimento.

E a música, por si só tem natureza divina, mas ali naquele espetáculo de capacidades humanas, ela provou ser uma ligação direta com o divino.

Foi uma grande emoção poder ver, ouvir, sentir e participar de tamanha comprovação de que o ser humano tem mesmo a centelha divina, enfim é etéreo.

Rita de Cássia Vaz Machado
(26/09/2007)

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* Espetáculo Alegria do Cirque du Soleil, em Curitiba/PR

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