MUDANÇAS

Os seres humanos arrastam em sua história muitas lutas, guerras e destruição. Desde tempos imemoriais, muito destruímos sob pretexto de que era para construir. Incoerência parece, mas... somos seres imperfeitos.

É recente o costume de aprisionar nossos “irmãos” animais, mesmo os selvagens, sob as mais diversas alegações: para vê-los, ouvi-los, ter ao alcance. Se boas condições, tratamento e alimentação lhes provemos, qual o mal? Muitos, com certeza, estão em melhor situação do que se estivessem livres. Este simples pensamento já mostra o quanto avaliamos mal o que é bom para o próximo, mesmo quando se trata de animais. A liberdade não tem preço e, por si só, já vale mais que qualquer gaiola de ouro.

Hoje, a consciência – afinal, os seres humanos têm isso – está mudando as coisas. As leis ajudam, não há dúvida.

Eu achava lindos os pisos e demais coberturas de pedra. Mármore, granito, ardósia, São Tomé e a lista é grande. Em viagem ao Espírito Santo, é comum o trânsito de caminhões transportando imensos blocos de pedra. Incontáveis galpões ao longo da estrada abrigam os exemplares mais variados. Demorei muito tempo para me dar conta de que eu jamais vira uma montanha de mármore, granito, ardósia, São Tomé... Minha mãe me contava que via montanhas assim quando viajava de Vitória para Cachoeiro do Itapemirim. Histórias de quase um século!

Desconheço leis que protejam estes patrimônios. É possível que existam, mas que, a exemplo de outras, determinem uma “cota” para extração. Vale lembrar - e não esquecer nunca – que estes bens não são renováveis. Em algum momento, assim como os animais em extinção que só existem em foto, só veremos as grandes montanhas tombadas sob nossos pés, algumas servindo de adorno em luxuosos banheiros.

As leis já existiam para proibir os fumantes nos ônibus urbanos. Havia uma placa afixada, bem na frente dos coletivos, acima dos motoristas. Mas era “uma letra morta”. Nos outros ônibus, daqueles com poltronas reclináveis, encontrávamos instalado num dos braços um pequeno recipiente com “tampa”. Era um cinzeiro.

Quando as novas leis vieram, proibindo fumar em ambientes fechados, pensei: não vai pegar. Estas já nasceram mortas. Mas... me enganei.

A consciência – de novo – já não vê com bons olhos o cigarro. Não é mais chic fumar, não leva mais “ao sucesso”, não é sinal de modernidade, de ser rebelde – muito próprio nos adolescentes – ou de ser adulto. As belas e ricas propagandas foram extintas e os maços exibem a realidade. Quem tem olhos que veja, e de preferência rápido, enquanto há tempo!

A lei seca está na moda. Burlada por todos os lados, ignorada tantas vezes, ela não se intimidou. Fincou pé e paira como nuvem negra sobre os que ainda teimam.

As leis – de novo – têm sido, paulatinamente, uma grande aliada. Atingem em primeiro lugar a parte “mais sensível” do ser humano: o bolso, segundo dizem. Mas também a mídia nos bombardeia diariamente, várias vezes ao dia, com as consequências dos que ainda não se renderam aos novos hábitos. Imagino os resultados funestos em quem, sob ação etílica, se envolve em um acidente de carro e deixa sequelas para o próximo. Multa se paga, mas nem tudo o dinheiro conserta ou traz de volta: paralisias, sonhos desfeitos, saúde, a própria vida.

Mudar o que já parecia impossível é trabalho árduo. Às vezes é preciso ir lentamente. Assim como a água que, gota a gota, vai encharcando o solo até causar uma grande avalanche, as atitudes individuais vão “contaminando” a sociedade. Ser correto acaba virando “moda”. Bem vindas sejam as mudanças!!!

Maria Luiza Falcão

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