Ronaldo - O Fenômeno

                Dois anos atrás, no Festival de Monólogos de Jundiaí, que é realizado anualmente na Sala Glória Rocha, eu apresentaria o monólogo, de minha autoria, Sala de Espera, com uma atriz muito conhecida na cidade. No dia do espetáculo, à tarde, ela apresentou-se sem estar com o papel devidamente decorado.
                – Pode deixar que eu me viro, – ela me disse.
               – De jeito nenhum – respondi – Vou cancelar nossa inscrição agora mesmo.
               E não apresentamos a peça.
               Se tivesse dito antes, logo no início dos primeiros ensaios, eu a teria dispensado e feito a peça com uma das duas ou três atrizes que estavam ávidas pelo papel.
               Esse caso, verídico, serve de exemplo para o caso do Ronaldo, o Fenômeno. Duas pessoas, a meu ver, estão erradas no episódio desastroso da nossa estréia na Alemanha: seu técnico, Carlos Alberto Parreira, e o próprio Ronaldo. Explico: se ele não estava apto para fazer parte desta seleção de futebol, porque o técnico o escalou? E se ele sabia não estar à altura porque não falou a respeito, com a hombridade e honestidade que todos esperavam?
               A Nike fez a chuteira para ele sob medida. Ela calçava o seu pé de uma maneira excepcionalmente perfeita. Quando ele se apresentou, acima do peso, e, lógico, com o pé maior do que na época da confecção, que lhe provocaram bolhas, de quem é a culpa? Da Nike?
               Na revista Veja, desta semana, a propósito deste assunto, o senhor Carlos Werutsky, coordenador do setor de esportes das associações brasileiras de obesidade e nutrologia, afirma:

                “1º – Durante uma partida de futebol os jogadores percorrem, em média, 6 quilômetros. Contra a Croácia, Ronaldo não correu nem 1;

                2º – Um jogador acima do peso precisa fazer um esforço três vezes maior que os outros. Com até 2 quilos a mais, isso pode ser resolvido com preparo físico. Mas, se juntam gordura e pouco treino, não há solução;

                3º – Quem está acima do peso pode sofrer contusões, cãibras e quedas de mau jeito.”

                A revista aponta, ainda, através do jornalista André Fontenelle, de Konigstein, que, apesar da decepção desse jogador na estreia, Parreira garantiu que ele jogaria contra a Austrália, no dia 18, afirmando: “Ronaldo estava realmente fora de sintonia contra a Croácia. É uma oportunidade que nós estamos dando para que ele se recupere.” A propósito, nós quem?, pergunto.
                Na revista há, ainda, uma declaração do próprio Ronaldo: “a gente vai ter três semanas para treinar muito, ficar bem, para não ter nenhum problema físico na Copa.”
               Continua a revista: “A seqüência de más notícias em torno dele – Ronaldo – começou logo no primeiro dia da fase de preparação, no fim de maio, quando 23 jogadores foram submetidos a exames físicos. Esses testes revelaram o que era visível a olho nu: ele estava com peso e taxa de gordura acima do normal. A comissão técnica mantém os resultados em sigilo.” Por que será? E qual é o motivo de o Parreira lutar com unhas e dentes, contra tudo e todos, para mantê-lo no time?
               Volto ao assunto anterior: se ele estava com todos estes problemas, porque o treinador insistiu em escalá-lo?; e porquê ele aceitou ser colocado no time, arriscando o prestígio de toda a nação brasileira?
               Se eu tivesse esses problemas, e não tomasse a atitude firme que tomei, como teria sido a apresentação do monólogo naquela noite?

Albino Júnior

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