CAMINHAR
Ah, eu pedi o teu olhar e recebi distância. Pedi perdão e recebi castigo. Pedi amor e recebi desprezo. Pedi muito. E me negaste tudo. De tanto te ausentar, me permitiste descobrir que apesar de tudo, ainda pulsa meu sangue nas veias e meu olhar ainda busca um resquício do teu, sempre em vão. E dessa solidão imposta, acumulada por todos esses dias silentes, todas essas noites vazias, saiu um belo dia um rebento temporão bastante alheio ao enredo desta história. Filha do descaso, a ilusão é prima irmã do sonho e neta da sede de viver. As ilusões, mágicos seres alados, voam por sobre o meu telhado, inútil tentar agarrá-las, cerceá-las, impedi-las. São etéreas demais ainda que estejam ao alcance de tua mão. Podes tudo, menos isto. Podes matar cem vezes a minha esperança, que a ilusão a fará reviver, qual a Fênix mitológica, sempre anelante por um sonho esguio, por uma réstia de luz no horizonte, por um pouco de água da fonte. Andar faz bem. E é pela estrada, que agora eu caminho.
Pedro Zeballos