Areia movediça

Eternizo-me nas buscas e nem sei o que procuro. Às vezes um rosto diluído — o teu — nas sombras escuras e desconhecidas da minha inconsciência. Santas, uma mão que sinto e que negas me tocar, ou então a luz viva, do pirilampo, acesa ao longe. Eu não entendo ou decodifico qualquer sinal.

Há lua lá fora?, eu não sei! Não tive o ímpeto ou sequer a vontade de olhar a janela aberta à minha frente. Só sei do silêncio, porque o escuto e ele incomoda-me as falas tantas que divagam em mim.

Percebo que meu cão está desesperado, porque a pulga morde o meu pé — deus não tenho tido olhos para meu amigo. Amanhã, não esqueço: compro o remédio. Será? Tenho esquecido tudo ultimamente.

Olho meu umbigo e ainda sinto a dor do corte. Reminiscências da vida uterina. Estou querendo proteção . Anjos e fadas sorriem da minha dor dilacerada. Onde dói ou o que dói eu não sei. Mas a alma estilhaçada eu sei.

Toca o telefone, meu amigo chora comigo.  Juntos, ao mesmo tempo tão separados pelos dois mil quilômetros entre nossos estados, vivemos o mesmo baile mudo: o tango está apenas em nossas cabeças. Entre nós, cúmplices, existe o desejo de risos futuros. Desligamos com promessas de uma noite de sonhos mágicos.

Novamente só e sozinho, noite adentro, escuto os meus pesadelos. Galos cantam. As pulgas, alimentadas, deixam meu cachorro dormir. O gato ronrona ao meu lado. A minha dulcinéia sonha nossos sonhos. Eu, cavaleiro andante, reluto ao sono: não posso vencê-lo, bem sei, mas sou difícil de corromper. 

Urhacy Faustino

 
 

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