Meio Termo

                  Sou de classe média. Para os ricos sou pobre. Para os pobres sou rico. Em suma, não pertenço a nenhuma e as duas ao mesmo tempo.

                  É agradável poder andar livremente pelos dois lados. Eu tenho uma motocicleta 125 cilindradas, toda velha, e ando com ela pela cidade. Uso uma mochila nas costas, pois essa é a maneira mais fácil de carregar as coisas que preciso.

                  Quando entro em alguma firma para conversar com alguém, todos pensam que sou um daqueles motoqueiros que trabalham na rua. Não me importo; sou o que sou. Além do mais, já fui mesmo um daqueles motoqueiros e não vejo nisso problema algum.

                  Meu pai, em contrapartida, tem um carro importado (daqueles bem bacanas), e quando me visto melhor, dirigindo o tal do carro bacana, vejo pelo vidro do carro os motoqueiros olhando para mim com desprezo. Aí eu me pergunto: qual a diferença?

                  Os pobres pensam que os ricos têm tudo. Os ricos pensam que os pobres nada têm e que na primeira oportunidade roubarão o que eles têm. Mas eu pergunto aos dois: Quem pode ter o quê nesta vida?...

                  Quando morremos, não é para o mesmo barro que voltamos?

                  (Ou será que tem barro de rico e barro de pobre? 

Marcelo Ferrari

Do livro: Manga com leite, 4c Gráfica e Editora, Ltda., 1998, SP

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