NESSUN DORMA

Ninguém durma!
Não, isso não precisa ser um imperativo principesco. O melhor seria dizer: Ninguém dorme.
Mas, porque permanecem acordados? Será por conta de algum ruído ensurdecedor, de um alarido intenso?
Não! Ninguém dorme porque uma voz se calou. Uma voz que foi ouvida em toda a parte, em qualquer espaço: dos mais sofisticados teatros líricos às areias das praias tropicais. Uma voz que vibrou e fez vibrar; encantou sem fronteiras, sem preconceitos. Uma voz que cantou o erudito e popular com o mesmo brilho. Uma voz que brilhou em árias, em trios, em coros. Uma voz que extasiou reis e plebeus.
Pavarotti se calou, e o seu silêncio foi ouvido nos quatro cantos do mundo!
Apesar do corre-corre desse mundo insano, que vive em desabalada carreira, Carreras, um sobrevivente, parou para dar um último adeus ao amigo. O plácido Domingo, com certeza, deve estar consternado.
Ninguém dorme, é verdade. Mas há um consolo: sua voz está mais viva do que nunca, nas mentes dos que aprenderam a admirá-lo como intérprete seguro, primoroso, eclético, poderoso e dedicado à sua arte.
Ninguém dorme, é verdade, mas a lembrança de suas interpretações, do som de sua voz, não nos deixará, jamais, insones.
"Dorma in pace", Pavarotti!

Adilson Luiz Gonçalves

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