E de repente, minha cama ficou vazia. Minha cama, meu chuveiro, meu sofá, sobra espaço em todos os cantos. O queijo tem demorado a acabar. O puxador do armário ainda não foi colocado. E o chão, continua onde ficava antes, ou foi substituído por essa saudade que consegue ser maior do que o bicho papão? Dá para pelo menos o sol seguir nascendo no leste todos os dias, na hora em que o galo canta? Ou só o que continua seguindo o ritmo dos ponteiros do relógio são as tempestades nos finais de tarde, as caminhadas até o metrô, as besteiras, o trabalho e as pessoas com uns trinta anos agindo como adolescentes? Os três metros quadrados do meu colchão nunca me pareceram tão vastos. Mas a cama poderia ser do tamanho de uma caixa de fósforos e eu continuaria cabendo com folga. Eu e o seu espaço vazio. Por que é que eu planto amor e só nasce saudade, planto perguntas e não nasce nenhuma respostinha?

Márcia do Valle

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