As viagens são o que somos

Praia ou montanha. Europa ou América. Aprender uma nova língua, visitar parentes, passar férias ou lua-de-mel. As opções são muitas. Algumas vezes nosso desejo de viajar para um lugar depende dos sonhos ou de uma propaganda interessante. Mas pessoas são diferentes e os atrativos procuram agradar a gregos e troianos. Eu fico com os gregos.

Não é preciso muita propaganda para falar da Grécia. Se eu nunca tivesse lido um guia sobre a Grécia, iria do mesmo jeito. Lia sobre roteiros, museus e hotéis para escolher meu tipo de viagem. Daí o título do texto, modificado de uma frase de Fernando Pessoa: “ As viagens são os viajantes. O que vemos não é o que vemos, senão o que somos ”.

Imagens e  sentimentos de uma viagem são momentos únicos vividos por um indivíduo. Um relato de viagem pode ser sobre esses momentos ou apenas uma descrição. Um relato pode criar em alguém a vontade  de vivenciar aquelas aventuras ou convencer alguém de que o lugar merece ser visitado, pode elogiar uma agência ou pode descrever serviços...

Se quiser ser convencido a visitar a Grécia ou deseja informações turísticas, procure uma agência. Como não preciso convencer ninguém, falo da fascinação em pisar onde pisaram tantas pessoas que influenciaram minhas leituras. Fui para um lugar onde não tem só filosofia e mitologia. Tem sol, mar, museus, templos sagrados, ilhas e muito mais. É um lugar onde você imagina que seus heróis andaram por ali.

Resumindo, Atenas é a atração principal. Visita imperdível é a Acrópole, onde está o Partenon, templo que homenageia a deusa Atena, protetora da cidade. Na Acrópole tem um museu e o templo Erecteion, sustentado pelas colunas de moças chamadas de Cariátides, construído no lugar onde miticamente Poseidon fez sair água da terra com seu tridente.

Abaixo da Acrópole fica o Odeon de Herodes Atticus, construído pelos romanos e atual palco de concertos. Também nos arredores estão as ruínas do Teatro de Dioniso, que viu o surgimento da tragédia grega com autores como Ésquilo, Sófocles e Aristófanes.

De cima da Acrópole, temos a vista da cidade com edifícios baixos avarandados, pincelados entre as ruínas. E muitas delas encontrei sem querer, como o Relógio de Kyrrestos, uma torre octogonal que fala sobre os ventos em cada um dos seus lados. Também próximo à Acrópole ficam o Arco de Adriano e as colunas do Templo de Zeus.

Amei o passeio na Ágora, o mercado antigo, onde os pensadores se encontravam para ouvir os filósofos. O Estádio Panatenaico tem arquibancadas de mármore e foi local dos primeiros jogos olímpicos da era moderna, em 1896. No Parlamento, turistas esperam a troca da guarda dos soldados com saias e sapatos de pompom. Logo em frente fica a Praça Syntagma, cercada de hotéis e lojas chiques. Plaka é um bairro antigo cercado de igrejas bizantinas, bares e lojas para comprar lembranças. Todas essas visitas são imperdíveis.

À noite pode-se visitar tavernas e tomar a bebida nacional, um destilado forte de anis, Ouzo. Assisti a um show de danças folclóricas e encontrei outros brasileiros se divertindo. Jantamos Moussaka, a tradicional lasanha de berinjela, e muita salada grega.

De Atenas fui de ônibus em um tour de cinco dias. Saímos da Ática pelo Canal de Corinto, em direção ao Peloponeso. A primeira visita foi Epidauro, onde estão as ruínas do Teatro com a acústica perfeita. Depois, Náuplia, onde tem a Fortaleza de Palomini, construída pelos venezianos na Idade Média. Não subi os 999 degraus, pois chegamos à noite e no dia seguinte iríamos para Micenas. Micenas tem fantásticas muralhas, o Portal dos Leões e um túmulo circular como um iglu, possivelmente o túmulo de Agamêmnon.

Depois fomos para Olímpia , onde foram realizados os primeiros jogos olímpicos. Lá estão as ruínas dos templos de Zeus e Hera e tem um Museu fantástico. De Olímpia para Delfos  atravessamos o Golfo de Corinto em uma balsa no Porto de Patras, que tem as fortalezas venezianas importantes na batalha de Lepanto.

Na Grécia continental, no caminho para Delfos, há praias e curvas pelo Golfo de Corinto que lembram a Rio-Santos. Paramos em uma praia linda chamada Galaxidi, na foto ao lado.

Delfos fica na encosta do monte Parnaso e vi um pôr-do-sol lindo da janela do quarto. O santuário de Apolo é enorme e subi muitas escadas para ver tudo. Alguns idosos só olhavam... Uns trinta quilômetros depois de Delfos fica Arajova, povoado famoso pela estação de esqui.

Continuamos a viagem pelas planícies da Tessália, os míticos campos de Pã, em direção à Meteora. Para quem pensa que na Grécia só tem ilhas e ruínas do século de Péricles, vale a pena visitar essa grande floresta de pedras, uma das comunidades mais inacessíveis da Terra. É um lugar pouco divulgado e longe de Atenas. Vejam na foto abaixo.

Os mosteiros  bizantinos foram construídos nos topos das rochas na Idade Média. Antes eram acessíveis  por cordas, mas claro que hoje há escadas para os turistas! Restam seis mosteiros, dos vinte e quatro originais. Visitei três.

Os museus dentro dos mosteiros possuem documentos, manuscritos, selos, pergaminhos, pinturas bizantinas, peças fabricadas pelos monges e decretos de Constantinopla - mas não pode filmar ou fotografar.

Voltando para Atenas, passamos pelas Termópilas, famosa pela batalha e onde tem a estátua  do rei espartano Leônidas. E o mar Egeu sempre como acompanhante...

Já li que a Grécia tem mais de três mil ilhas, mas não são todas habitadas. As que mais ouvimos falar são Mikonos, Santorini e Creta. Fui em outras três, mais perto do continente: Egina, Poros e Hidra. O passeio de navio até as três ilhas dura um só dia. Tem almoço incluído, mas as bebidas, que são caras, estão à parte.

Em Egina há o conservadíssimo Templo de Afaia, construído antes do Partenon – e muita plantação de pistache no caminho do porto até o templo. Pode-se comprar pistache aos lotes nas ruas. Em Hidra, nenhum carro circula nas ruas, mas vemos bicicletas e animais de carga.

Fiz essa viagem sozinha. Não tinha companhia para me beliscar e dizer que era sonho. Realidade e sonho unem-se até hoje nas minhas lembranças. Sim, ainda viajo nos sonhos e também muito sonhei durante a viagem. Mas não foi sonho - as fotos e os filmes que fiz comprovam que tudo aconteceu. E foi inesquecível.

Solange Firmino

3º lugar no Concurso Relato de Viagens, promovido pelo site: <http://www.sandrasantos.com/blog.htm>, em 2007.

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