A PALAVRA É VIDA

Vestida sempre de branco, Emily Dickinson, a incomparável poetisa da América, reconstrói a natureza repleta de flores, pássaros, animais e emoções. Transcende os limites acanhados de seu quarto simples de cidade do interior e se universaliza no coração da humanidade que a sucedeu sem ter nunca conhecido a glória do grande escritor, do grande artista.
Dedica-se à tarefa simples de sentir e transmitir, através da palavra, através da poesia, a grandiosidade que habita cada coração humano. E ali o seu baú transforma-se em celeiro literário desafiando a morte e o tempo, a ignorância e o esquecimento.
A palavra morre
Quando é dita,
Alguém diz.
Eu digo que ela começa
A viver
Naquele dia.
Com este poema curto e singelo ela atravessa o tempo e atinge o coração e as mentes reflexivas. O que é a palavra? Ela vive? Ela morre? Sobrevive a quem a pronunciou? Qual o mistério que a envolve e substancia? Qual a sua força?
O mistério da palavra é o mistério do pensamento. Ela é a expressão física daquele e, como tal, pode desaparecer; ele não. Ele, o pensamento, cruza o espaço e o tempo e pode sobreviver, como espírito, como chama, ao som físico e perecedouro.
Desaparece o som, desaparece a voz, fica o sentimento, o sentido, a raiz, a intenção, a emoção.
Assim é o homem-voz, expressão de um pensamento maior, anterior ao som e à palavra. Assim somos nós.

Nagib Anderáos Neto

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