A VIDA NÃO ACABA

Quando chegamos ao mundo literalmente nascemos e explicitamente estamos retornando para completar o que deixamos por fazer em outra vida ou para corrigir erros do passado. A vida não acaba no momento em que nos desligamos do corpo. Neste instante estamos apenas encerrando um tempo que nos foi concedido para realizar tarefas as quais estávamos destinados. É preciso entender que tudo tem um tempo pré-determinado sejam as atitudes cujos resultados perduram e por vezes marcam, sejam pelas palavras cujo eco ressoa intimamente.

A vida física se desenvolve em várias etapas distintas onde destacam-se características inerentes que funcionam como elos de uma corrente de formação de conduta do desenvolvimento físico, moral e intelectual do indivíduo. Durante toda essa jornada realizamos os nossos afazeres cujo resultado incide na nossa formação.

A vida começa desde a concepção quando da união do óvulo e do espermatozóide ocorre a fecundação. Iniciada a vida já a partir daí um espírito acompanha a gestação do corpo físico que será sua vestimenta carnal na crosta terrestre. No útero materno a criança se desenvolve e prepara-se para cumprir o seu destino, finalmente nascendo para o mundo.

O tempo da infância compreende-se desde o nascimento até o início da maturação. Destacam-se na infância a inocência e o desenvolvimento do discernimento. É quando acontecem os descobrimentos e aflora a curiosidade sobre o desconhecido. Nesta fase os pais necessitam dispor de paciência utilizando-se de perseverança e relevância quanto a atos cometidos, procurando educar e prevenir outras ações não convencionais.

A conturbada puberdade é o período de mudança da infância para a adolescência. É quando o corpo sofre modificações com hormônios em profusão moldando física e mentalmente o ser humano. A rebeldia e a insegurança são as principais características nesta fase. O ser humano reluta intimamente em deixar a superprotegida infância e passar para a adolescência onde será mais cobrado em suas ações.

Já ajustados e definidos corpo e espírito passam a experimentar as maravilhas e os dissabores da vida. Vêem à tona os sentimentos e as necessidades, os vícios e as vaidades. Avizinha-se o tempo em que as vontades supérfluas e as carências afetivas tornam-se imperativas impulsionando o indivíduo a se auto-afirmar definindo-se como cidadão. É na adolescência que os jovens experimentam as sensações mais completas e deliberam sobre seus pendores iniciando a caminhada para a vida profissional e adulta. Os pais até então tutores dos seus rebentos e responsáveis pela sua provisão e por suas ações, educação e conduta, vêem-se em situação de insegurança antevendo a possibilidade do seu fruto ganhar o mundo e tornar-se independente. Questionam-se a todo momento se fizeram o necessário para prepará-los para a vida e as vezes se culpam em pensamentos contidos pelo que supostamente deixaram de fazer. Assim, desenvolvido o ser humano ingressa na idade adulta onde há que com responsabilidade e coerência prover o seu próprio sustento e constituir a sua família perpetuando a criação.

A idade adulta confere ao homem a possibilidade da realização pessoal e profissional. Neste período de extrema responsabilidade quase sempre se destaca o interesse pelo desdobramento no labor visando o acúmulo de bens matérias alicerçados nas necessidades e nas vaidades numa atitude voluptuosa visando resguardar o futuro quando o corpo já cansado não poderá prover.

Após anos de trabalho e desgaste o corpo começa a apresentar sinais ocasionados pelo constante esforço. A pele antes sedosa e aveludada agora apresenta rugas e perde o brilho. O olhar espelha a sabedoria adquirida pelo passar do tempo. O sorriso transmite a segurança e a certeza da realização. Os cabelos prateados indicam a caminhada realizada. A mente um pouco desgastada ainda demonstra a beleza poética quando da narração de fatos. As alegrias e os prazeres são necessários a fim de possibilitar a essa fase da vida uma felicidade constante e não permitir que o desânimo e a depressão se instalem. Ficar velho não é tornar-se inútil e sim participar com dignidade da sociedade sabendo-se que foi e é importante no contexto social. Os filhos e netos tornam-se o amparo maior e geram motivos para viver com felicidade. Cumpridas todas essas etapas finalmente tem-se por encerrado o ciclo da vida física quando então se retorna a vida espiritual. A vida material pode ser considerada a uma viagem marítima onde desde a partida do porto diversas situações se apresentam. Muitas vezes navega-se em águas tranqüilas tendo-se a oportunidade de experimentar as benesses da viagem e suas aventuras, outras vezes superando tempestades e vendavais e de forma competente consegue-se superá-las. Assim, transcorrida a viagem, enfim em águas abrigadas aproxima-se do porto de destino quando chega ao fim a grande viagem física para então retornar ao mundo espiritual.

Valdir Barreto Ramos

« Voltar