MONÓLOGO CEREBRAL

Bem que gostaria de garatujar algumas impressões nestas páginas ainda em branco. O dilema é que meu cérebro está vazio. Totalmente. Até parece imerso em uma bacia de água fria. Ou então aprisionado em um baú todo ornamentado de grilhões dourados. Ou ainda levitando pelo imenso espaço tentando captar as energias cósmicas. Ou talvez simplesmente repousando (quem sabe não hiberna) por uns dez anos... Ou talvez ainda esteja meramente de ressaca da preguiça milenar...

Ora, é melhor não divagar sobre asneiras consumadas. Para que explicar um cérebro não pensante? Como conviver com algo assim... assim... - ignorante? Ignorante?! Como?! Será que o meu cérebro, essa massa cinzenta, tem autonomia? Se eu afirmei não ser portador de pensamentos inteligentes, como agora há argumentos nestas linhas? Argumentos?! Eu falei argumentos? Hi! Hi! Hi! Hi! Hi!

Coitado! Meu órgão pensante caducou. Coitado! Deve ser pelo fato de ter tomado muito sol no verão. Talvez tenha derretido...

Pois é. A minha meta é tornar-me um poeta imortal. Imortal?Ha! Ha! Ha! Ha! Poeta? E imortal? Ha! Ha! Ha! Ha! Ha! Não me faça rir até as lágrimas! Com este minúsculo cérebro apatetado? Ora, vamos ser realistas! Nada de sonhos impossíveis! O máximo que podes fazer é correr em linha reta, sem tropeçar em nenhum obstáculo; saindo do terraço e chegando ao quintal de casa.

Discordo. Não sou assim tão inútil. Sou capaz de cortar um pão, passar manteiga e comê-lo sem deixar cair uma migalha no chão.

Entretanto, em alguns aspectos, sou lento, preguiçoso, inapto. Reconheço. Sou incapaz de discursar, amar, argumentar, sorrir, chorar... Mas vou continuar na minha tentativa de escrivinhar sobre as páginas em branco do meu existi r.

Leila Cristina Carvalho

« Voltar