Dinheiro, culpa e outras reflexões...

Já imaginaram o mundo sem dinheiro? Isso pode até parecer papo político, mas o ponto de vista que quero observar não é necessariamente igualdade para todos (já que, a priori, todos são realmente iguais), mas como seria a vida das pessoas se no mundo não existisse o dinheiro, ou melhor, se o dinheiro fosse apenas um papel, sem poder algum.

Vivemos em uma sociedade predominantemente católica, que prega a culpa como alimento diário, e uma vez alimentando-se dela, seremos indivíduos mais honrados, sofredores e merecedores do “paraíso”.

Estou dizendo isso, porque eu mesma, mesmo que inconscientemente, penso assim. O que é mais sujo para uma sociedade católica do que o dinheiro? Rico não é merecedor do Céu, mas pobre é. E é por isso, que ricos e pobres têm essa relação conturbada com o dinheiro, pois quem o tem, gosta, mas no fundo se sente culpado; então se vê diante de duas alternativas: ou ele usa o dinheiro para se fazer bem e fazer bem aos outros, ou ele se considera um pecador, e já que vai para o “inferno” mesmo, “mete o pé na jaca” como dizem, e passa a ser ganancioso, perde seus valores internos (pois acha que não é digno de tê-los) e fica insaciável por bens materiais. Já quem não o tem (estes são chamados de pobres), passam a vida “lutando” para tê-lo, mas no fundo se sentem dignos por travarem uma batalha diária trabalhando para conquistá-lo, já que viver assim, traz uma estranha sensação de honra, de maior valor individual.

Já repararam que algumas pessoas acham bonito dizer o quanto trabalham, não por realização pessoal, mas gostam de pensar no quanto sofrem diariamente para poder usufruir de bens materiais, pagar as contas, poder comprar uma casa, um carro, viajar, ir a bons restaurantes, se divertir? Parece que estamos constantemente nos desculpando por querermos ter conforto; somente através de muita luta e sofrimento é que nos damos o direito de nos sentir confortável em viver o dia a dia.

Agora imagine acordarmos um dia em um mundo onde não houvesse mais dinheiro. Fico pensando inicialmente em uma extrema euforia! Pessoas saindo nas ruas, se divertindo, fazendo tudo o que querem, adquirindo bens, tomando posse de casas, carros; indo ao supermercado e colocando tudo no carrinho para levar para casa, viajando a todos os lugares que sempre sonharam em conhecer (ponha a sua imaginação para funcionar também, são infinitas as possibilidades...). Trabalhar para que? Não existe mais salário! Acordar cedo, trabalhar no mínimo 8 horas, esperar o pagamento no final do mês, fazer orçamento, crediário, cheque pré-datado, pagar o mínimo do cartão de crédito, juros, prestações, aluguel, poupança, aposentadoria... isso tudo acabou! Que beleza, não? Acredito que seria uma maravilha, um sonho bom, uma euforia e um estado de graça, mas que duraria pouco tempo.

Colocando essa hipótese como real, podemos olhar o dinheiro agora sob um novo prisma. O que é o dinheiro afinal, senão a mola propulsora da vida colocada no cotidiano? O dinheiro, o poder que ele tem, somos nós que damos a ele. É claro que a vida não se resume a isso. O que chamo de “vida essencial”, que é o valor ao lado espiritual, ao desapego, são necessários para nossa evolução, e essa é sempre uma das razões pela qual vivemos na Terra; mas já que estamos nela, também temos na prática que se adaptar ao que ela nos confere; uma vida de desafios e escolhas.

E que escolhas e desafios teríamos se não houvesse dinheiro no mundo? Como iríamos trabalhar com a humildade, o altruísmo, a generosidade, as nossas aspirações, desejos de todos os tipos, crises, conflitos, se o dinheiro não estivesse presente nas nossas vidas? Que desafios enfrentaríamos? Que valor daríamos a educação de nossos filhos, à nossa educação? Que valores passaríamos adiante, já que em um mundo sem dinheiro poderíamos ter tudo o que quiséssemos? Que lições tiraríamos da vida?

Não quero entrar agora na questão das desigualdades, das razões pela qual alguns têm tão pouco dinheiro e outros têm tanto. Isso é assunto para outro artigo (um artigo só não, muitos!). Os excessos são sempre prejudiciais, e em um mundo ideal, o mais justo é sempre o equilíbrio.

Mas de qualquer forma, a questão é que não adianta lutar contra o dinheiro, felizmente ou infelizmente, não sei, ele existe para intermediar nossa vida, mas não é ele que manda em nós, nós é que o criamos e nós é que conferimos seu valor.

É um fato. Não dá pra julgar se é bom ou se é ruim, é apenas um fato. É como aquela frase que se escuta por aí: “Há duas coisas certas na vida: a morte e os impostos”. Para a morte, trabalhamos o lado espiritual, a crença de que ela é somente uma passagem e que o que temos aqui na Terra é por um curto período de tempo; e os impostos? O que faremos com ele? Devemos então, trabalhar para que possamos pagá-los, e assim como no lado espiritual, nos aprimorar, nos desenvolver e buscar a elevação material também, por que não?

Por isso, creio que deveríamos assumir uma relação séria com o dinheiro. Deveríamos parar de ser amantes do dinheiro e casar-se logo com ele! E casamento é uma troca, troca de energia, abertura aos acontecimentos, concessões e ganhos. Enfrente as alegrias e tristezas que sua relação com o dinheiro traz; conquiste coisas junto a ele, construa legados materiais, intelectuais e espirituais através dele.

Dinheiro não é sujo, não! Dinheiro é esperança, é desafio, é energia que circula universalmente, é troca. Abra-se à prosperidade! Cuide bem do seu dinheirinho, guarde-o com carinho, use-o com vontade e multiplique-o sem culpa!

Tatiana Magalhães

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