O Bilhete

Carlinha estava ansiosa. Suas mãos suavam muito, e nem as repetidas passadas de mãos na calça jeans, conseguiam secá-las.
Seu coração parecia bater na garganta e seus ouvidos só escutavam o compasso acelerado do seu peito.
A professora de inglês que falava e andava sem parar de um lado para outro na frente da sala, parecia estar no volume mais baixo. Parecia só uma pessoa andando e mexendo a boca. Carlinha não ouvia nada, só as batidas do seu coração.
Aos poucos o bilhete chegava mais perto dela.
Marcos estava sentado do outro lado da sala, numa linha diagonal à sua.
Ela na segunda carteira da primeira fila, e ele na última carteira da última fila.
Num rápido momento em que a professora andava da direção dela para a outra extremidade da sala, lhe dando durante alguns segundos, as costas, Carlinha aproveitou e olhou Marcos, seu novo amor!
Ele também a olhava, e aproveitou o momento e beijou um pedaço de papel bem dobrado e mostrou que era para ela. Cutucou o amigo da frente e pediu que fosse passando até chegar nela.
Mas o movimento da professora não era continuo. Às vezes ela parava e ficava explicando alguma coisa, olhando a turma de frente, e o bilhete parava, pois ninguém queria ser pego pela malvada professora de inglês, que não pensava duas vezes para chamar a atenção de algum aluno de forma nada discreta.
Movimentos lentos, de um aluno para o outro, desde o cutucão nas costas, a mostra do papel, e a explicação. Carlinha sentia que em vez de vir para frente, o bilhete parecia dar voltas, sempre para trás, na sala de aula.
Um atrevimento. Um dos meninos chatos da sala pegou o bilhete, e fez cara de quem não ia entregar. Ficou um bom tempo com o bilhete na mão, até ser encarado pela professora de inglês, por estar fazendo caretas no meio da aula, e rapidinho passar o papel para a pessoa do lado, sem explicar nada.
Nessa hora, Carlinha achou que não conseguiria ficar quieta, pensou em se levantar e ir pegar o bilhete. Afinal de contas era para ela e ela estava louca para lê-lo, e com medo que alguém o abrisse, só para irritá-la.
Não precisou. A pessoa que recebeu o bilhete era sua amiga e já tinha percebido o movimento dos amigos.
Discretamente passou para a pessoa da frente pedindo para passar em linha reta até chegar na sua amiga.
Quando o bilhete chegou nas mãos de Carlinha, ela quase não conseguiu abri-lo de tanta expectativa e nervosismo pela demora.
Enfim, abriu. Valeu a pena, não ouvir nada da aula de inglês e ficar conhecendo bem o ritmo de seus batimentos cardíacos.
Estava escrito: “Eu te amo”.

Rita Vaz

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