Gif da crucificação © Urhacy Faustino

 

 

 

 

 

 

 

Mais uma vez, é Páscoa

              Páscoa me leva ao passado.
              À morte de Jesus, o Cristo. À multidão que assiste impassível. Alguns, presos nos seus medos, no medo da força policial, no medo de serem discriminados se reagirem. Medo de se perder o pouco ou até o nada que se tem – a liberdade do corpo. A liberdade do espírito. Medos indevassáveis...
              Outros, presos na euforia patológica de ver sangue escorrer. No prazer de ver a morte chegar e ceifar a vida...
              Páscoa me traz de volta ao presente. Às mortes dos Cristos modernos. Situações semelhantes. À multidão que assiste impassível. Pouco mudou. Mas a Páscoa está aí para nos fazer repensar. Mudar ou aceitar ficarmos presos nos nossos medos, nas nossas patologias. Mudam-se os nomes, adaptam-se situações – novo modus operandi, ao modus vivendi da ocasião... Hoje temos miséria globalizada, crianças morrendo de fome, governo sustentando bancos, mantendo a taxa de juros para privilegiar o capital, a taxa de inflação fingidamente baixa, gerando mais e mais desemprego. E tudo, tudo (hipoteticamente) feito em nome da Família, à custa da Família. Pois ela é a única que perde. Sim, a Família, a cellula mater, embrião de qualquer sociedade. Seria tão diferente nosso tempo do tempo de Jesus? Não, só se revezam formas de organizar a supremacia sobre o próximo. Seu símbolo mágico, o Ovo de Páscoa, se parte e se reparte para o renascer da alma, da plenitude da vida, da união verdadeira entre os homens, do deixar de estar apenas lado a lado, para a busca e prática da Verdade. Pena que nem todos se entregam à simplicidade de romper a própria casca. Pena. Pois, presos nelas, somos ilhas, ilhas humanas, não chegaremos a lugar nenhum, a não ser a este renascer contínuo e improfícuo, doloroso e de falsa cegueira que vivemos geração a geração.
              Pelos séculos afora, todo ano, a Páscoa vem despertar a gente... Feliz Páscoa.

Angela Togeiro

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