Culturas populares, velhas e novas (fragmento)

A cultura da mídia converte a todos em membros de uma sociedade eletrônica, que se apresenta imaginariamente como uma sociedade de iguais. Aparentemente, não há nada mais democrático do que a cultura eletrônica, cuja necessidade de audiência a obriga a digerir, sem interrupções, fragmentos culturais de origens as mais diversas. (...) Os miseráveis, os marginalizados, os simplesmente pobres, os operários e os desempregados, os habitantes das cidades e os interioranos encontram na mídia uma cultura em que cada um reconhece sua medida e cada um crê identificar seus gostos e desejos. Esse consumo imaginário (em todos os sentidos da palavra imaginário) reforma os modos com que os setores populares se relacionam com sua própria experiência, com a política, com a linguagem, com o mercado, com os ideais de beleza e saúde. Quer dizer: tudo aquilo que configura sua identidade social. (...) O único obstáculo eficaz contra a homogeneização cultural são as desigualdades econômicas: todos os desejos tendem a assemelhar-se, mas nem todos os desejos têm as mesmas condições de realizarem-se, A ideologia nos constitui em consumidores universais, embora milhões sejam apenas consumidores imaginários. (...) Se, no passado, o pertencimento a uma cultura assegurava bens simbólicos que constituíam a base de identidades fortes, hoje, a exclusão do consumo torna inseguras todas as identidades.

Beatriz Sarlo

In: Cenas da vida pós-moderna – intelectuais, arte e videocultura na Argentina. Trad. Sérgio Alcides. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora UERJ, 2004.

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