MAR DE INVERNO

Tempo é fator fundamental na nossa vida. O inverno bate à porta e traz a preocupação de não sentir frio. A metáfora óbvia do inverno é o frio, essa gigantesca força da natureza que não podemos controlar.

Quem de nós tem medo do inverno? Muitos enfrentam o difícil desafio, mas a principal arma para encarar as mudanças climáticas é não ter medo, não desistir de sonhar, questionar os hábitos e priorizar os valores.

É impossível não se deixar levar pelo espírito corajoso ao inventar dias chuvosos e sempre procurar uma maneira de garantir a harmonia entre o inverno e o bem estar, com a capacidade de ouvir o coração.

O vento no lado de fora // (o sentimento dentro congela) / ventos movimentam atmosferas / transformando nuvens, dispensando chuvas / alterando paisagens // (o consentido dentro enregela // convivo ventos, deposito / a graça das novelas; enredos acumulados / de amores e ódios, o cisco da poeira / nos olhos arregalados das notícias // (o ressentimento dentro refrigera).” (Pedro Du Bois)

Nada é mais saudável para o espírito do que estar preparado para ir em busca de novas atitudes, novos hábitos, livros e autores, para amenizar os conflitos do inverno.

Ao abrir a porta dou passagem ao vento. Ele traz arrepios para o meu corpo. O casaco que estou usando é leve e curto. Estou sem guarda-chuva e está chovendo. Coloco a passagem do ônibus no bolso, para não gelar as mãos. Amanhã irei comprar um par de luvas.

Gostaria de tomar uma sopa bem quentinha à noite. Tomarei um café quente e passarei manteiga de cacau para proteger os lábios do frio.

É nesse mar de inverno que encontro “Dobras do Tempo” , como razão.

“Casa grande de imensas frestas / por onde ecoavam esperanças / que abrigavam meu frio. // Fabriquei fortes paredes. / Isolei o vento,... / Esfriei a alma... / Perdi as fendas da infância. / Dou aos olhos outros caminhos”. (Carmen Sílvia Presotto)

Um olhar único sobre a vida. Através da porta fechada os ouvidos captam os sinais do vento, ecos desmemoriados trazem indisfarçada animação, onde brincadeiras simples e o encontro com os amigos se tornam diversão constante.

Ventania e conversas sobre a vida, ditas em segredo da alma é o sustento da paz e agasalho. Como em Orides Fontela, “Os extremos do vento / sons / partidos”.

Com a chegada dos ventos, na queda das folhas, nas temperaturas baixas, devíamos voar sob o mar de inverno em busca de um lugar bem quentinho, onde não entra o frio e a chuva, para não desfolhar o ser, como no poema de Virginia Woolf:

Sem nunca ser, mas sempre na orla do Ser / A minha cabeça, como a máscara da Morte, é transportada no Sol / A sombra apontando o dedo à minha face / Movo os lábios para saborear, mexo as mãos para tocar / Mas nunca vou mais tocar, / Ainda que o espírito se incline para ver./ diante da rosa, o ouro, os olhos, uma paisagem admirada, / Os meus sentidos registram o ato de desejar, / Desejar ser rosa, ouro, paisagem ou um outro - / reclamando a plenitude no ato de amar.”

Tânia Du Bois