O MENINO               

O caso é que sou um tipo introvertido na maior parte das vezes. E segungo Carl Gustave Jung esses tipos em geral estranha os outros. Fui lá fazer minhas compras no mercado e tá lá debaixo do sol inclemente e aos pés do povo que quase passava por cima, o menino caido. "Meu Deus", pensei no meu íntimo e continuei a caminho do mercado, porque meu dia é corrido e trabalhoso e se eu não for esperto também caio e o povo passa por cima. Sim, comprei tomate, couve, cerveja, orelha de porco, lombo, coca-cola e andei pelo mercado de um lado a outro até que com a despensa cheia e o cartão relativamente zerado sai do mercado e lá estava ele, o menino. De uns dez anos. Perto dele quase o pisando passavam jovens, velhos, mulheres e homens, mas parece que o menino era invisível, só eu via. "Meu Deus", como essa gente é ruim, pensei, olhando de longe com minha sacola. Eu não sei se poderia fazer mais do que fiz. Se tivesse com o telefone em mãos teria ligado pra o conselho tutelar, mas a bolsa me pesava e vim-me embora. E durante o resto da tarde, sem deixar-me em paz nem madrugada adentro, o menino ficou pesando na minha mente como se eu o tivesse o atropelado sem socorrer?. Será que fui omisso? Será que deixei que a insensibilidade geral me atingisse? E se eu tirasse um biscotinho da sacola? È. Agora já era. Essa crônica é pra vomitar o gosto da omissão ou quem sabe do mal irremediável do egoísmo.

Marcelino Rodriguez

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