Por uma Política Econômica Inteligente: Menos Impostos e Mais Educação

             O estímulo à iniciativa privada é a base de toda política desenvolvimentista. O homem de iniciativa cria trabalho para si e para outras pessoas. Às classes trabalhadoras se deve dar oportunidade de trabalho e iniciativa. Todo assistencialismo é pernicioso por acomodar o assistido, como a esmola que vicia, paralisa, entorpece.
             Uma política econômica inteligente deveria estimular a iniciativa privada. Juros e impostos em ascensão desestimulam a produção gerando desemprego, estagnação e inflação.
             Um governo mal gerido e endividado toma dinheiro no mercado para pagar sua ineficiência gerando inflação. Ao invés de estimular a educação e a iniciativa, promove o assistencialismo, aumenta sua dívida e encobre seus rombos através da desinformação e da tergiversação.
             Para manter-se como governo indefinidamente, os partidos no poder negociam alianças que garantem votos através de gastos públicos indevidos, utilizando o dinheiro que lhes chega através de impostos crescentes e juros exorbitantes. Em outras palavras, o bolso do povo é subtraído legalmente através de conluios que aqueles partidos arquitetam.
             Mas se é o próprio povo quem elege os governantes, onde está o problema?
             Não podemos nos conformar com a crença retrógrada de que o voto implique democracia. O governo do povo para o povo deveria representá-lo cumprindo seus anseios e a Lei Maior que não pode ser letra morta. Educação, saúde, trabalho, segurança e proteção ao meio ambiente deveriam ser os temas que ocupassem as mentes do homem público e não a forma de se chegar ao poder e ficar nele indefinidamente. Enquanto a política for encarada como a profissão na qual os interesses pessoais estão acima do interesse público, os políticos não merecerão outro conceito que o que têm na atualidade e muito pouco diz em seus favores.
             O absolutismo partidário impõe os candidatos que lhes são convenientes para que se perpetuem.  O eleitor é obrigado a votar por imposição. Prova disto é o eterno retorno daquelas figuras histriônicas que estão sempre a se reeleger e não para servir o povo, senão a si próprios. A política, que deveria ser a arte de gerir o bem comum, transformou-se na arte de chegar ao poder e permanecer nele indefinidamente, até que uma força maior leve o político deste mundo para sempre, mas logo é substituído por outro igual, como uma praga que nunca se extingue.
             O bem estar comum depende do incremento constante à livre iniciativa para o que os governos se tornaram grandes obstáculos. O desestímulo à produção gera inflação, aumento do custo de vida.
             Uma fórmula básica de incremento à iniciativa é a educação que amplia a inteligência das pessoas e sua capacidade de produção e boa convivência. Mas os governos são muitos caros e gastam muito para se manter no poder, não lhes sobrando quase nada para a educação.
             Menos impostos e mais educação é a ordem do momento.

O LEITOR GUEVARA

             Guevara é capa do livro O Último Leitor do escritor argentino Ricardo Piglia; é uma foto do leitor isolado em cima de uma árvore na Bolívia, em plena luta armada.
             O guerrilheiro da década de sessenta surge como o leitor incansável que sonhara ser escritor. ”Naquele tempo eu achava que ser um escritor era o título máximo a que se podia aspirar”, escrevera certa vez a um amigo. O jovem viajante de uma América esquecida imaginou escrever sobre as aventuras de um turista ímpar à procura de um enredo. Antítese do Quixote, que pretendera viver as aventuras lidas, o argentino escolheu viver, experimentar, para depois escrever. E sempre acompanhado dos livros, amigos inseparáveis desde a infância até o triste desenlace de sua execução na selva boliviana.
             Ernesto Guevara de la Serna nasceu em Rosário. Prematuro e asmático foi viver numa região serrana para se curar. Por causa dessas limitações, inclinou-se à literatura, tomando contato com Cervantes, Julio Verne, Garcia Lorca. A mãe mantinha ligações com a esquerda e o pai fundou a Ação Argentina. Em 46 mudou-se para Buenos Aires indo estudar medicina. Interrompe os estudos em 52 para viajar pela América Latina, retomando-os em 53 para concluí-los, caindo novamente na estrada para nunca mais voltar à Argentina. Casa-se no Peru, e depois no México, onde ganha o apelido de Che por usar sempre esta expressão quando falava com as outras pessoas. Em 61 esteve no Brasil e foi condecorado com a Grã Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul pelo então presidente Jânio Quadros, e foi executado na selva boliviana em oito de Outubro de 67 em La Huigera, aos 39 anos.
             Guevara amava os livros. O último leitor não escrevia para viver, mas vivia para escrever. A literatura era sua redoma. Preocupava-se com as pessoas simples, o trabalhador, o iletrado, o crente, o enganado. O médico e intelectual abandonou sua poltrona de couro e a comodidade das bibliotecas para lutar pelos deserdados. A inteligência deste despojamento é duvidosa, mas o seu sentimento de solidariedade é inquestionável.
             Guevara o médico, o repórter, o leitor, o escritor, o líder, o guerrilheiro. Herói mítico moderno, carrasco do paredão, ministro da economia, andarilho despojado, anarquista, culto, malvestido, anti-religioso, combatente na América e na África, o que não conseguiu cumprir com o sonhado destino redentor em sua amada Pátria.
             Ernesto Guevara criou sua própria ficção. Para Piglia, um homem puro, o último leitor, o que num momento de desolação na selva foi capaz de subir a uma árvore e alheiar-se de tudo com um livro às mãos. O que sempre carregava à cintura o peso - para muitos inútil - da literatura. E um caderno de anotações para consignar o drama que criara para si mesmo e para os seus leitores.
             Literariamente, lembra-nos Hemingway, que também construía vivências para depois escrevê-las. Espiritualmente, todos aqueles - e foram tão poucos - que se comoveram com as injustiças impostas a tantos homens e sentiram em si suas dores, experimentando os sofrimentos dos seus irmãos e agindo, da forma como puderam ou souberam, para confirmar sua solidariedade. Espíritos que nos acertos ou nos equívocos tiveram seus nomes inscritos no grande livro que conta a trajetória sofrida do homem na Terra.
             A revolução cubana destronou um ditador para erigir outro. Os idealistas daquela época não chegaram a compreender que mudanças de regime e de governo não chegarão jamais a resolver os grandes problemas humanos, pois suas soluções dependerão do enfrentamento que o ser humano deverá travar consigo mesmo para modificar-se e construir um mundo melhor.
             Qualquer melhoramento social dependerá da educação que liberte o indivíduo das amarras dos preconceitos que anulam a inteligência transformando-o num homem-massa facilmente manipulado por qualquer ideologia exótica. Todo assistencialismo é inócuo por ser uma ajuda indiscriminada, muitas vezes por meio da violência, desestimulando os mais capazes com os quais se poderia contar para empreender um grande projeto educacional.
             A conquista da liberdade e da independência é uma jornada individual que depois se projetará por toda a sociedade.
             Conta-se que em seus últimos momentos, ferido e debilitado, Guevara passou numa escolinha daquela pobre região boliviana onde foi socorrido pela professorinha local; e que suas últimas palavras foram: ”Falta o acento”. Referia-se a uma frase escrita na lousa: ”Yo sé leer”.
             Como muito bem escreveu Ricardo Piglia, “morreu com dignidade, como um personagem de um romance de educação perdido na história”.

Nagib Anderáos Neto

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