CORPOS-LETRADOS, CORPOS-VIAJANTES

  

 

Ressonâncias do Decadentismo

 na Belle Époque brasileira

3º Colóquio

 

Estéticas de fim-de-século

8º Colóquio

 

 

CONJUGADOS COLÓQUIOS

Levantando um debate sobre “corpos-letrados, corpos-viajantes”, os conjugados Colóquios objetivam trazer a público novos resultados obtidos por projetos pertencentes aos Grupos de Pesquisa “Ressonâncias do Decadentismo na Belle Époque brasileira” e “Estéticas de fim-de-século” (inscritos no Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil/CNPq).

O Grupo “Ressonâncias do decadentismo na Belle Époque brasileira” tem como proposta nuclear a análise das modalidades de representação que – no contexto tropical das primeiras décadas do século XX – configuraram o repasse do decadentismo em combinação com o movimento do Art Nouveau .

Grupo “Estéticas de fim-de-século” tem ampliado o inventário teórico-crítico acerca das modalidades de representação desencadeadas pelas artes, diante dos deslocamentos de idéias que enredaram as últimas décadas dos séculos XIX e XX.

Durante quatro dias, os trabalhos serão apresentados por docentes-pesquisadores de diversas instituições brasileiras (UFRJ, UFBA, UnB, UFF, UNESA, UFJF, UERJ, UNINCOR, UNESP, UFPE, UFG, FBN ), por doutorandos e mestrandos inscritos nos Programas de Pós-Graduação da Faculdade de Letras da UFRJ.

Organizadores:

Luiz Edmundo Bouças Coutinho (UFRJ)
Flora de Paoli Faria (UFRJ)
Irineu Eduardo J. Corrêa (FBN)

PROGRAMA

29 De Novembro (quarta-feira)

Manhã 

10:30 - 11:30
VERA LINS
NESTOR VITOR: A VIAGEM E SEUS SENTIDOS

11:30 - 12:00
LATUF ISAIAS MUCCI
A VIAGEM & A LETRA: MÁRIO DE ANDRADE VAI A MARIANA-MG A FIM DE VISITAR ALPHONSUS DE GUIMARAENS

12:00 - 14:00 – Pausa

Tarde

14:00 - 14:30
ROGÉRIO LIMA
CORPOS LETRADOS, CORPOS VIAJANTES, CORPOS ELÉTRICOS 

14:30 - 15:00
LEILA MICCOLIS
BOCAGE, O HERÓI DO SERTÃO BRASILEIRO  

15:00 - 15:30
LUCILA NOGUEIRA
A ESTÉTICA DA ALTERIDADE E DO ESTRANHAMENTO NA VIAGEM AO ORIENTE DE GERARD DE NERVAL

15:30 - 16:00

GOIAMÉRICO F. CARNEIRO DOS SANTOS
O CORPO, A MATERIALIDADE DA LINGUAGEM E A DISPERSÃO DOS SENTIDOS 

 

Local

Salão Portinari | Palácio Gustavo Capanema

Rua da Imprensa, 16/ 2º andar – Centro

28 De Novembro (terça-feira)

Manhã

10:00 - 10:30
GEYSA SILVA
A VIAGEM E A ESCRITA

10:30 - 11:00
FERNANDO MONTEIRO DE BARROS
VAMPIROS LETRADOS, VAMPIROS VIAJANTES

11:00 - 11:
LUCIANA SALLES
CORPOS LETRADOS: O POEMA E O FLÂNEUR

11:30 - 12:00
MÔNICA GENELHU FAGUNDES
ÀS MARGENS DA ESTRADA: DA VIAGEM COMO TRANSGRESSÃO

12:00 - 14:00 – Pausa

Tarde


14:00 - 14:30
FRED GÓES
O TRIUNFO DOS CORPOS EM DESFILE

14:30 - 15:00
SAMUEL ABRANTES
A REPRESENTAÇÃO DO CORPO FEMININO, A PARTIR DO TEXTO O FIGURINO DE JOÃO DO RIO, E A SOCIEDADE CARIOCA.

15:00 - 15:30
ISABELLA BOTTINO/MARCOS ROMA SANTA
PROUST, OU A ARTE COMO UM TAROT DE ENGANOS

15:30 - 16:00

ELIS CROKIDAKIS
A VIAGEM PELO MUNDO DO JOGADOR VICIADO NA CIDADE DE PARIS   


Local

Auditório Machado de Assis | Fund. Biblioteca Nacional

Rua México, s/n | Centro ( acesso pelo jardim )

 

29 De Novembro (quarta-feira)

Manhã
10:00 - 10:30
IRINEU E. JONES CORRÊA
A viagem decadentista: O RETORNO DE MEDEIROS E ALBUQUERQUE DE PORTUGAL

10:30 - 11:00
MARCUS ROGERIO T. S. SALGADO
UMA VIAGEM AOS ANTÍPODAS DA MENTE

11:00 - 11:30
STELLA MARIA FERREIRA
OSCAR WILDE E OS CAMINHOS DE PEREGRINA BELEZA

11:30 - 12:00
MARCELO AUGUSTO P. TEIXEIRA
VIAGENS DESOLADAS: A POESIA DE EXÍLIO E DA VOZ DO INAUDITO EM PAUL CELAN E PROCESSOS MIGRATÓRIOS RUINOSOS NA POESIA DE T. S. ELIOT .

12:00 - 14:00 – Pausa

Tarde

VISITA GUIADA

 

 
   

Local

Auditório Machado de Assis | Fund. Biblioteca Nacional

Rua México, s/n | Centro ( acesso pelo jardim )

30 De Novembro (quinta-feira)

 

Manhã 
10:00 - 10:30
PEDRO PAULO G. F. CATHARINA
CORPO VIAJANTE E VIAGENS IMAGINÁRIAS EM ÀS AVESSAS: A POLTRONA MÁGICA DE DES ESSEINTES

10:30 - 11:00
FERNANDO F.FIORESE FURTADO
MURILO MENDES ENTRE UMA E OUTRA TRÓIA

11:00 - 11:30
Mª APARECIDA MEYER NASCIMENTO
EMBLEMAS DO TEMPO: IMAGENS DO CORPO-VIAJANTE FREUDIANO

11:30 - 12:00
LUIZ EDMUNDO B. COUTINHO
AS PASSAGENS DE JOÃO DO RIO PELA EUROPA

12:00 - 14:00 – Pausa 

Tarde

14:00 - 14:30
FLORA DE PAOLI FARIA
DE D. PEDRO II A MAXIMILIANO DE HABSBURGO: AS VIAGENS DE MARIO PRAZ NAS AMÉRICAS

14:30 - 15:00
MAURO PORRU
AS VIAGENS DECADENTISTAS NA FILMOGRAFIA VISCONTIANA

15:00 - 15:30
ANNITA GULLO
O TRAÇO DECADENTE DO DIALETO SARDO- DO ANALFABETISMO À DESCOBERTA DA LÍNGUA ITALIANA – UM CORPO VIAJANTE QUE SE TRANSFORMA EM LETRADO

15:30 - 16:00
HILARIO ANTONIO AMARAL
TONDELLI E SUAS VIAGENS: O ÚNICO REMÉDIO

16:00 - 16:30
SONIA CRISTINA REIS
LUIGI MALERBA E SUAS INCURSÕES NA ARTE GRECO-ROMANA

RESUMOS

ANNITA GULLO (UFRJ)

O TRAÇO DECADENTE DO DIALETO SARDO — DO ANALFABETISMO À DESCOBERTA DA LÍNGUA ITALIANA — UM CORPO VIAJANTE QUE SE TRANSFORMA EM LETRADO

Trata-se da história autobiográfica escrita por Gavino Ledda – Padre Padrone – relatando a saga de um jovem pastor da Sardenha que organiza seu mundo através das figuras mais emblemáticas do dialeto sardo. A transformação do pastor acontece quando este viaja para o norte da Itália, por ocasião do serviço militar, sendo obrigado não só a alfabetizar-se, mas também a conhecer a cultura da sociedade italiana da qual vivia distanciado. O processo de aquisição lingüística vai se fundamentar na aproximação do dialeto oral da Sardenha com as línguas clássicas para, finalmente, alcançar a língua italiana.

 

ELIS CROKIDAKIS (UNESA)

A VIAGEM PELO MUNDO DO JOGADOR VICIADO NA CIDADE DE PARIS

Através da narrativa de José Geraldo Vieira , em “A mulher que fugiu de Sodoma” , faremos um tour pela paixão, calvário e descida da cruz do personagem Mário, boêmio, médico e jogador , que sai do Brasil para viver em Paris não só os prazeres mundanos permitidos a um dândi, como também a decadência moral, social e física. Mostraremos que o corpo-letrado do romance nos permite uma viagem pelo mundo dos viciados em jogo, suas angústias, medos, desejos e incapacidade de driblar a sorte.

 

FERNANDO FABIO FIORESE FURTADO (UFJF)

MURILO MENDES ENTRE UMAS E OUTRA TRÓIA

Escritos entre 1954-1955, no decorrer da primeira viagem de Murilo Mendes (1901-1975) à Europa, e reunidos em edição bilíngüe publicada originalmente na Itália em 1959, os treze poemas de Siciliana rubricam os modos do poeta brasileiro de mudar em texto os campos ubi Troia fuit . Diante do desacordo entre a Europa civilizada, aprendida e apreendida nos livros, e as ruínas de uma Tróia conflagrada pela barbárie da Segunda Guerra Mundial, o corpo viajante desvela o número e a paz que os pitagóricos encontraram na Trinácria da Magna Grécia, Tróia devorada por Chrónos.

 

FERNANDO MONTEIRO DE BARROS (UERJ)

VAMPIROS LETRADOS, VAMPIROS VIAJANTES

No começo do século XIX, a prosa romântica inglesa consolidava a linhagem dos vampiros literários nos contos de Lord Byron (1816) e John Polidori (1819), com seus vampiros eruditos e viajantes. Tais narrativas, protagonizadas por estes “homens fatais”, traziam a marca fatal do dandismo e pareciam, várias décadas antes, prenunciar a flânerie de Charles Baudelaire. Com efeito, o próprio autor das Flores do mal (1857) povoa o conjunto de seus escritos com dândis, flâneurs e vampiros. Entretanto, Baudelaire traz para a cena literária ocidental pela primeira vez o cenário novo da metrópole moderna, só que por ele tingida de sombrias tonalidades góticas, como atestam os seus célebres noturnos parisienses. A partir de tais precursores, a década finissecular de 1890 apresenta, tanto em The true story of a vampire , do conde Eric Stenbock (1894), como em Dracula , de Bram Stoker (1897), vampiros cosmopolitas e itinerantes que fazem uso das conquistas da civilização industrial para se deslocarem, configurando, assim, o motivo da viagem em meio a um cenário gótico moderno e ostentando, como seus antecessores, o conhecimento da arte e da erudição, do qual fazem uso como um de seus mais potentes venenos.

 

FLORA DE PAOLI FARIA (UFRJ)

DE D. PEDRO II A MAXIMILIANO DE HABSBURGO:

AS VIAGENS DE MARIO PRAZ NAS AMÉRICAS

Em seu livro Il mondo che ho visto (1982), o esteta decadentista Mario Praz relata grande parte de suas aventuras de viagens pelas terras do “novo mundo”, proporcionando a aproximação, como em um jogo de bricolage , de culturas aparentemente distintas, como é o caso do México e do Brasil, por ele visitados na década de 1960, cujo parentesco histórico será reativado através do viés irônico que permeia as carismáticas figuras de D. Pedro II e Maximiliano de Habsburgo.

 

FRED GÓES (UFRJ)

O TRIUNFO DOS CORPOS EM DESFILE

A comunicação pretende estabelecer a relação entre a transitoriedade característica do rito carnavalesco e a introdução das manifestações transitórias e transitivas consideradas como expressões civilizadas de se brincar o carnaval. Aclimatando para o contexto do carnaval do Rio de Janeiro, a interpretação da burguesia parisiense dos triunfos reais, em 1855, desfila, na capital federal, a primeira grande sociedade, cuja permanência na festa e posteriores desdobramentos redundam nas monumentais alegorias das contemporâneas escolas de samba. Estará, também em foco, o corso, forma carnavalesca burguesa característica da bela época. Estas manifestações serão observadas, tendo como fonte, crônicas e contos de autores brasileiros.

 

GEYSA SILVA (UNINCOR)

A VIAGEM E A ESCRITA

No final do século XV, Colombo saiu do porto de Palos, na Espanha, para iniciar uma viagem que iria mudar os destinos do mundo até então conhecido. Precisamente em 1492, chega às costas americanas, iniciando uma nova era: a Idade Média sai de cena para dar lugar à Modernidade. A mentalidade do navegante, entretanto, ainda é medieva, como se pode constatar pela leitura de seus diários e cartas, que serão objeto de estudo desse trabalho. Neles o discurso denuncia as crenças e esperanças de um homem apegado ao místico e às Sagradas Escrituras, isolado em sua fé e cercado pela desconfiança dos companheiros da temerária empresa marítima. A solidão vai fazer do corpo que viaja o corpo que escreve, pois o Almirante só poderá sobreviver se transpuser para o papel suas emoções e tristezas, prestando contas aos reis espanhóis de tudo o que viu e fez. Atraído pelo sobrenatural e pela leitura bíblica, Colombo é o homem que viaja preocupado com o que escreve, e escreve preocupado com o que vê, quer assegurar a vida eterna e deixar um testemunho para a posteridade.

 

GOIAMÉRICO FELÍCIO CARNEIRO DOS SANTOS (UFG)

O CORPO, A MATERIALIDADE DA LINGUAGEM E A DISPERSÃO DOS SENTIDOS

Aristóteles, ao construir a primeira e ainda a mais exemplar reflexão sobre a teoria dos gêneros, a saber, a épica, a tragédia e a lírica, ao mesmo tempo em que estabelece os seus preceitos morais acerca da natureza e da função da poesia, lega-nos a concepção da mímesis , que viria a se constituir como uma chave-mestra para a representação artística dos valores do mundo grego. Em sua Poética , Aristóteles considera que a tragédia se realiza primordialmente por meio da conjunção de seis elementos: fábula (imitação da ação), caracteres, falas, idéias, espetáculo e canto. Nessa formulação vemos que a linguagem e o corpo aparecem intrinsecamente entrelaçados. Mas o estabelecimento da tecnologia da escrita na cultura grega estabeleceu o advento de novas materialidades dos meios de comunicações reconfigurando os conceitos de texto, autoria e interpretação dos sentidos. Nossa comunicação propõe-se a discutir as condições de surgimento de novos suportes dos textos que se desvencilharam dos corpos, a eles às vezes retornando, para se reconfigurar em novas tecnologias – as letras, a palavra impressa, os textos eletrônicos e digitais – como próteses, extensões do homem, das suas formas de ser, dos seus sentidos.

 

HILARIO ANTONIO AMARAL (UNESP)

TONDELLI E SUAS VIAGENS: O ÚNICO REMÉDIO

As viagens realizadas por Tondelli estão na base da sua narrativa. O corpo que viaja também registra suas descobertas. Pululam viajantes que buscam algo, ou alguém, pelo mundo afora e, principalmente, dentro de si. As viagens dão voz ao desejo de se pôr à prova, ignorar normas e horários; acenam para a possibilidade de uma vida não integrada, um oásis de individualismo e de afirmação da liberdade pessoal. Enquanto o viajante respirar e tiver forças nas pernas, e seus braços conseguirem carregar uma mala, ele defenderá seu direito de ser só – um como tantos - na sua totalidade.

 

IRINEU E . JONES CORRÊA (FBN)

A viagem decadentista: O RETORNO DE MEDEIROS E ALBUQUERQUE DE PORTUGAL

Viagem convoca variados sentidos. Confronto com o novo. Retorno ao velho. Exterioridade e interioridade. Esta comunicação enfoca o retorno do jovem Medeiros e Albuquerque ao Rio de Janeiro, em 1884, após quatro anos em Lisboa. A viagem de estudos e formação na metrópole, prática habitual da elite brasileira, uma das estratégias de garantir a manutenção dos vínculos com a perspectiva hegemônica, inocula no adolescente as idéias defendidas por Guerra Junqueiro e Gomes Leal. De inspiração parisiense, a estética nova e sofisticada desestabiliza ao mesmo tempo o cânone e o contra-cânone, o discurso hegemônico e o seu contraditório: aproxima-se do romantismo, repudiando seus aspectos lacrimejantes, e se afasta do estrito padrão realista-simbolista, aproximando forma e sensualismo.

 

ISABELLA BOTTINO & MARCOS ROMA SANTA (UFRJ)

PROUST, OU A ARTE COMO UM TAROT DE ENGANOS

A leitura pretende interpelar a idéia proustiana da estetização das viagens e, portanto, dos deslocamentos, qual seja, a exploração dos espaços visitados que se cumpre sob a orientação de um mapa previamente traçado pelo discurso erudito da cultura. Tal cartografia é, na Recherche , desenhada pelo personagem de Swann, modelo do esteta perdido nas ruas parisienses, espécie de Pigamalião deceptivo. Para entrever o edifício da erudição solapado pelo conceito de arte segundo Proust, examinaremos o episódio em que o Narrador visita o balneário de Balbec, siderado pela idéia de uma igrejinha mourisca construída pelo discurso do especialista Swann, e, conseqüentemente, talhar a figura do artista no romance proustiano, bem como seguir suas intervenções espaciais.

 

LATUF ISAIAS MUCCI (UFF)

A VIAGEM & A LETRA: MÁRIO DE ANDRADE VAI A MARIANA-MG

A FIM DE VISITAR ALPHONSUS DE GUIMARAENS

Versa o presente ensaio sobre a viagem que, a 10 de julho de 1919, Mário de Andrade (1893-1945), protagonista do modernismo brasileiro, empreendeu à barroca cidade mineira de Mariana, aonde foi conhecer Alphonsus de Guimaraens (1870-1921), solitária estrela do simbolismo nacional. Por que o poeta de Paulicéia desvairada (1922) foi visitar, sem se declarar poeta, o autor de Kiriale (1902) e que significações essa viagem especial pode promover na letra do encontro marcado entre duas estéticas fundadoras da cultura brasileira: o simbolismo e o modernismo? Este trabalho deseja escrutar os signos de uma viagem letrada e cifrada.

 

LEILA MICCOLIS (UFRJ)

BOCAGE, O HERÓI DO SERTÃO BRASILEIRO

Camonge é neologismo que indica uma típica e mitológica figura peculiar ao Nordeste Brasileiro, devido à marcante presença de Camões e de Bocage, visibilizando a importância dos dois no imaginário popular. Fixamo-nos em Bocage, por ele ter vindo ao Brasil e convivido com o nosso povo , de princípios de 1786 a outubro do mesmo ano, residindo na Rua das Violas (hoje Teófilo Otoni), no Rio de Janeiro. Visa a presente pesquisa analisar a interessante viagem de Bocage: de grande poeta português a herói sertanejo brasileiro, elencando os fatores e características que transformaram sua pessoa - real-concreta e natural de outro país - , em uma personagem parodística e piadista de nossa ficção nacional.

 

LUCIANA SALLES (UFRJ)

CORPOS LETRADOS: O POEMA E O FLÂNEUR

No final do século XIX, um discípulo de Baudelaire passeia por Lisboa com sua “luneta de uma lente só” e transforma o corpo da cidade em ajuntamento de letras. Cerca de cem anos depois, um artista plástico determinado a romper as barreiras entre diferentes artes e linguagens busca os poemas do tal flâneur e tenta dar corpo às suas letras. O trabalho de João Vieira recriando o Livro de Cesário Verde empreende viagens em diferentes níveis: além de manter vivo o trajeto geográfico observado pelo poeta e do deslocamento temporal, diacrônico, promovido em toda releitura, estabelece uma viagem intersemiótica em que a pintura nos conduz através da poesia. Propomos aqui um convite a tais viagens, em especial à última.

 

LUCILA NOGUEIRA

A ESTÉTICA DA ALTERIDADE E DO ESTRANHAMENTO

NA VIAGEM AO ORIENTE DE GERARD DE NERVAL

Romântico/Decadentista/Simbolista/Surrealista/Moderno/Contem-porâneo: como e por qual vereda se caminha ao encontro do esteticismo de Gerard de Nerval? Em que este difere do orientalismo de Hugo e Lamartine e de que maneira a descoberta da alteridade identitária do mundo oriental prosseguiu influenciando a recusa à invasão da expressão artística pelo realismo/racionalismo desde a geração Beat Americana e a contracultura dos anos sessenta até a intersemiose com o punk /gótico da nossa época?

 

LUIZ EDMUNDO BOUÇAS COUTINHO (UFRJ)

AS PASSAGENS DE JOÃO DO RIO PELA EUROPA

Procuraremos mostrar como João do Rio, ao escrever os relatos acerca das quatro viagens que realizou à Europa, incorporou cenografias impostas pelo cosmopolitismo da Belle Époque , respondendo às rubricas que requisitavam as modalidades modernas de se exibir como “cidadão do mundo”, colocando em destaque instâncias confirmadoras da “aventura do novo”. As premissas de certos relatos – protocolados pelo alçamento concreto do corpo-viajante – encampam a disposição do autor em conferir os recursos da própria escrita, desafiada a cruzar fronteiras que confirmassem o visto de seu passaporte para a Modernidade, desdobrando uma singular experiência de repatriamento.

 

MARCELO AUGUSTO PINTO TEIXEIRA (UNESA)

VIAGENS DESOLADAS: A POESIA DE EXÍLIO E DA VOZ DO INAUDITO EM PAUL CELAN E PROCESSOS MIGRATÓRIOS RUINOSOS NA POESIA DE T. S. ELIOT

A presente participação no colóquio busca observar as operações singulares na poesia modernista do norte-americano T.S. Eliot, radicado desde a tenra juventude na Inglaterra, e Paul Celan, poeta romeno, que após a experiência do holocausto emigrou para França. Ambos os poetas transformaram os idiomas em que escreveram. Eliot, em sua primeira poesia , que culmina em Waste Land, criou com seu imagismo o mais desolado e intertextual depoimento da Babel européia entre as duas guerras mundiais. Celan criou o mais poderoso poema sobre o Holocausto-Fuga sobre a morte. Lentamente, o poeta romeno se deslocou da lírica para um formato poético escarpado que desmonta o campo de significação na língua alemã. Estes dois poetas representam o mais descrente, erudito e lúcido campo da poesia euromodernista.

 

MARCUS ROGERIO TAVARES S. SALGADO (UFRJ)

UMA VIAGEM AOS ANTÍPODAS DA MENTE

A paixão pela viagem é uma constante na literatura e na arte oitocentistas. E é um século em que viagens decidem rumos e atitudes estéticas: da viagem à Argélia que empreenderam tanto os irmãos Goncourt, em 1849, como Gide, no fim do século, às viagens de Rimbaud, com Verlaine e Germaine Nouveau ou não; passando pelas fugas de Gauguin, Robert Louis Stevenson e Marcel Schwob rumo a mares distantes e pelas inúmeras personagens de Henry James que passam o tempo cruzando o Atlântico. Remontando a Chateaubriand, imbrica-se a paixão pelo exotismo com a paixão pela viagem. É também a era dos Apaches de Paris, de Pierre Loti, das novelas marítimas e do "japonisme " em matéria de mesologia. Decorre dessa busca pela nota orientalizante o interesse do século XIX pela viagem aos antípodas da mente – particularmente o haxixe e o ópio, que povoarão com suas fantasmagorias o território psíquico espelhado na literatura "fin-de-siècle ".

 

MARIA APARECIDA MEYER NASCIMENTO (UFRJ )

EMBLEMAS DO TEMPO: IMAGENS DO CORPO-VIAJANTE FREUDIANO

Além das coordenadas geográficas e topográficas, existem em cada viagem outras coordenadas que exprimem um universo conceitual, que os relatos de viagem nos levam a conhecer. As viagens freudianas são etapas de uma experiência analítica, um recurso para afrouxar o consciente e penetrar no misterioso reino do inconsciente. De Freiberg a Londres, no encalço de rastros, Freud retraça as linhas do seu mapa geo-analítico, enredando-nos pelos caminhos da observação de paisagens exteriores e interiores. No mesmo tempo em que a sua investigação procura circunscrever um paradigma de cidade, ela inscreve também um sinal distintivo na representação do corpo-viajante que privilegia constantes partidas, mas sublinha a necessidade imperiosa de um determinado pouso. Esse corpo-viajante faz de cada fragmento urbano um simulacro analítico, apreende uma geografia estimulada pelas anotações do Imaginário e observa o seu próprio desejo.

 

MAURO PORRU (UFBA)

AS VIAGENS DECADENTISTAS NA FILMOGRAFIA VISCONTIANA

A análise da filmografia viscontiana permite observar que o tema da viagem está presente em grande parte de sua produção, quer como prefácio do cumprimento inexorável do destino, quer como representação das grandes transgressões e profundas transformações históricas e sociais vivenciadas pelo cineasta. Tal constatação é passível de ser verificada desde suas primeiras obras cinematográficas para atingir seu ponto máximo nos filmes Il Gattopardo e Morte a Venezia . No primeiro filme, a viagem irá representar o declínio e o fim inevitável da aristocracia siciliana. No segundo, essa mesma temática será vista como uma navegação labiríntica e sombria, repleta de riscos e desvios que leva o protagonista até o cumprimento extremo de seu destino.

 

MÔNICA GENELHU FAGUNDES (UFRJ)

ÀS MARGENS DA ESTRADA: DA VIAGEM COMO TRANSGRESSÃO

A auto-estrada poderia ser pensada como um topos emblemático da modernidade do século XX: espaço codificado, domínio da máquina sobre o humano, templo da velocidade e da objetividade. Meio constritivo, de movimento, direção e tempo controlados, que será eleito por Julio Cortázar e Carol Dunlop como cenário para um ato de subversão – uma viagem de trinta dias pela Auto-estrada do Sul (Paris-Marselha), que, documentada nas crônicas e fotografias de Os autonautas da cosmopista , redesenha a cartografia pragmática, neutra e exata do istmo de asfalto para descobri-lo espaço imaginado, vivido, povoado. Como a pavimentar – e se tornar mesmo – esta outra-estrada que menos percorre do que cria, o livro de viagem de Cortázar e Dunlop nos permite ver a imobilidade da passagem, a cristalização do movimento, a transgressão em curso.

 

 

PEDRO PAULO GARCIA FERREIRA CATHARINA (UFRJ)

CORPO VIAJANTE E VIAGENS IMAGINÁRIAS EM ÀS AVESSAS:

A POLTRONA MÁGICA DE DES ESSEINTES

Romance da imobilidade e do espaço interior, Às Avessas (1884), de Huysmans, traz contraditoriamente a viagem como um de seus temas recorrentes. O capítulo XI, em especial, narra a viagem abortada de Des Esseintes a Londres. A tensão entre o refúgio e o movimento está presente em todo o romance, estabelecendo uma das chaves de leitura da obra que assume a metáfora estruturante da viagem como uma nova proposta estética para o gênero romanesco.

 

ROGÉRIO LIMA (UnB)

CORPOS LETRADOS, CORPOS VIAJANTES, CORPOS ELÉTRICOS

O filósofo Peter Sloterdijk, no texto de sua conferência “ Regras para o parque humano : uma resposta à carta de Heidegger sobre o humanismo”, trata do fim da era do humanismo moderno como modelo de escola e de formação que não pode mais sustentar a “ilusão de que grandes estruturas políticas e econômicas possam ser organizadas segundo o amigável modelo da sociedade literária”. O livro, corpo portátil, hoje, encontra-se submetido às estratégias de comercialização das grandes corporações de mídia. As corporações internacionais não são novidades no cenário mundial, mas o seu impacto de massa é devastador. Nas tramas narrativas da pós-modernidade corpos paralisados, corpos letrados e erotizados buscam o sentido da sua existência em meio ao jogo do poder e do controle do saber. Esse trabalho busca refletir sobre a forma como o texto literário incorpora as questões e a sensibilidade do nosso tempo diante da nova forma de circulação da letra.

 

SAMUEL ABRANTES (UFRJ)

A REPRESENTAÇÃO DO CORPO FEMININO, A PARTIR DO TEXTO O FIGURINO DE

JOÃO DO RIO, E A SOCIEDADE CARIOCA

A comunicação objetiva dar continuidade à pesquisa sobre a Belle Époque carioca, e as formas de representação do corpo feminino, tendo como recorte o texto O Figurino de João do Rio, escrito a partir de sua viagem a Paris (em agosto de 1905) e as imagens, desenhos e caricaturas veiculadas na mídia impressa do início do séc. XX. O olhar de João do Rio viaja pela “rua da moda, a grande artéria da elegância”, por entre as vitrines da Doucet e lojas parisienses, e constrói uma leitura do que ele denomina de “a tentação da terra, a irradiação incomensurável de esnobismo e perdição”.

 

SONIA CRISTINA REIS (UFRJ)

LUIGI MALERBA E SUAS INCURSÕES NA ARTE GRECO-ROMANA

O presente trabalho investiga as incursões malerbianas pelo corpo textual da arte greco-romana, período pelo qual o intelectual italiano transita com propriedade, apoderando-se de argumentos e temas tratados nessa fase cultural, transportando para a época atual figuras polêmicas como Heliogábalo, Epicuro e Plínio, O Velho. As estratégias discursivas engendradas por Malerba baseiam–se em entrevistas fictícias que permitem ao leitor viajar por épocas remotas da História Ocidental.

 

STELLA MARIA FERREIRA (UFRJ)

OSCAR WILDE E OS CAMINHOS DE PEREGRINA BELEZA

Nascido Oscar Wilde em 1854, sai da prisão Sebastian Melmoth – nome emprestado do homônimo protagonista andarilho criado por um antepassado seu. O escritor faz-se mais uma vez personagem e o ciclo se fecha. Acompanhamo-lo na memória dos dias de fecundas caminhadas por terras a partir das quais brotaria uma prosa artesanal mesclando o antigo e o novo num eterno momento presente. Flanando, traçou as primeiras linhas para uma arte cuja harmonia estaria sempre na fronteira, - à deriva, à espera, à escuta -, sempre fiel aos efeitos produzidos nos sentidos e a eles dando forma e tons de um colorido artificial e inevitavelmente sedutor.

 

VERA LINS (UFRJ)

NESTOR VITOR: A VIAGEM E SEUS SENTIDOS

Nesta palestra, faz-se uma reflexão sobre o ensaio e a viagem, a partir da leitura do livro Paris, do crítico simbolista, Nestor Victor, que morou na capital francesa, de 1901 a 1905. Escrito em 1911, como um ensaio que tensiona com a narrativa de viagem, nele se compara a capital francesa com a capital brasileira, costumes, mulheres, espetáculos, com uma visão crítica das duas cidades. Desde Montaigne, criador do gênero, o ensaio seria uma viagem de autoprospecção, que aparece sob o impacto das descobertas que mobilizam o imaginário europeu. A leitura de Paris deixa ver, do lado de cá, o escritor brasileiro, mesmo antes das vanguardas, como um viajante, que desenvolve um pensamento sobre o país, na forma do ensaio, gênero que acolhe o conflito, a problematização e o inacabamento.