Dia 21 de março é considerado pela UNESCO como Dia  Internacional da Poesia. A data foi escolhida considerando-se ser hoje o  primeiro dia da primavera no Hemisfério Norte (algumas folhinhas preferem  considerar este início no dia 20). A tradição que liga a poesia à primavera  é antiqüíssima e teve seu momento mais florescente nos séculos XI e XII, na Provença, França, cujos poetas obedeceram estritamente à convenção de localizar sua poesia amorosa sempre nesta estação, no “tempo da flor”. Em  língua portuguesa, o rei-poeta, D. Denis (ou Dinis), que viveu entre  1261-1325, nos dá dois exemplos do uso desta tradição. A primeira,  complacente, na qual apresenta um diálogo entre duas jovens, a primeira  apelando para as flores novas do pinheiro para saber notícias de seu amado, a que a amiga responde que ele chegará logo, como prometeu. A segunda,  irônica, na qual o poeta declara que os provençais, que cantam de amor  somente na primavera, certamente não estarão tão perdidos de paixão  (“coyta”) como ele está. Vou transcrever os poemas como uma homenagem a  este dia e aos poetas desta lista (Mixagem Literária).

— Ai, flores, ai, flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
Ai, Deus, e u é?

Ai, flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
Ai, Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo?
Ai, Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi à jurado?
Ai, Deus, e u é?

— Vos me preguntades polo vosso amigo?
E eu ben vos digo que é sano e vivo.
Ay, Deus, e u é?

Vós me preguntades pelo vosso amado?
E eu ben vos digo que é vivo e sano.
Ay, Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é sano e vivo
e seerá vosco ante o prazo saido.
Ai, Deus e u é?

E eu ben vos digo que é vivo e sano
e seerá vosco ante o prazo passado.
Ai, Deus e u é?

[Don Denis, Vaticana 101, Biblioteca Nacional 568, - Transcrição de Hernani  Cidade]

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Proençaes soen mui ben trobar
e dizen eles que é con amor;
mays os que troban no tempo da frol
e non en outro, sey eu ben que non
am tam gran coyta no seu coraçon, qual
m’eu por mha senhor vejo levar.

Pero que troban e saben loar
sas senhores o mays e o melhor
que eles poden, sõo sabedor
que os que troban quand’a frol sazon
á e non ante, se Deus mi perdon,
non an tal coyta, qual eu ey, sem par.

Ca os que troban e que s’alegrar
van eno tempo que ten a color
a frol consigu’e, tanto que se for
aquel tempo, logu’en trobar razon
non an, non viven en qual perdiçon
oj’eu vyvo, que poys m’á de matar.

[Don Denis, Vaticana 127; Biblioteca Nacional 324 - Transcrição de  Rodrigues Lapa]

Marlene Andrade Martins

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