O Boi

Quando ainda no céu não se percebe a aurora,
E ainda está molhando as árvores o orvalho,
                      Sai pelo campo afora
                      O boi, para o trabalho.

                      Com que calma obedece!
                      Caminha sem parar:
                      E o sol, quando aparece,
Já o encontra, robusto e manso, a trabalhar.

Forte e meigo animal! Que bondade serena
Tem na doce expressão da face resignada!
Nem se revolta, quando o lavrador, sem pena,
Para o instigar, lhe crava a ponta da aguilhada.

Cai-lhe de rijo o sol sobre o largo cachaço;
Zumbem moscas sobre ele, e picam-no sem dó;
Porém, indiferente às dores e ao cansaço,
Caminha o grande boi, numa nuvem de pó.

Lá vai pausadamente o grande boi marchando...
                      E, por ele puxado,
Larga e profundamente o solo retalhando,
                      Vai o possante arado.

Desce a noite. O luar fulgura sobre os campos.
                      Cessa a vida rural.
Há estrelas no céu. Na terra há pirilampos.
E o boi, para dormir, regressa ao seu curral...

                                                                            Olavo Bilac