O JUMENTO

No alto da crestada ribanceira
pasta o jumento. Seus grandes dentes amarelos
trituram o capim seco que restou
de tanta primavera.
A terra é escura. No céu inteiramente azul
o sol lança os fulgores que aquecem
tomates, alcachofras e berinjelas.
O jumento contempla o dia trêmulo
de tanta claridade
e emite um relincho, seu tributo
à beleza do universo.

                               Lêdo Ivo

Do livro: "A noite misteriosa (1973-1982)", in Poesia Completa (1940-2004), Topbooks, RJ