Não queremos de maneira nenhuma com esta nossa estria, ferir sensibilidades ou susceptibilidades ou criar erros de distorcida concepção! Tão sómente, pretenderemos (sem pretensionismo exagerado) descrever tal incomum cena real de sexo explicito entre dois Insectos domésticos, de uma tal interessantissima caracteristica manifesta da inteligêngia, contida em toda a natureza e que nos envolve.

A Dama e O Barato

             Em Angola, hoje é muito comum ver uma Barata aqui ou ali, na varanda, dentro de uma gaveta ou noutro lado qualquer da casa. As desinfestações acontecem (têem de ser efectuadas) de forma frequente.

             Hoje estes resistentes, multifacéticos e incriveis Insectos sao nossos companheiros diários assiduos, e já não há Cães, Gatos, Piriquitos, Papagaios ou mesmo Mosquitos que rivalizem com seu poderio e presença sobre a área doméstica do Ser Humano, pelo menos, aqui para as nossas "Bandas"!

         Assim e após termos chegado a casa ontem á noite, já um pouco tarde, fomos beber daqueles copos de água geladinho que sabem pela "hora da morte" (não fomos nós que inventámos este termo!).

         Nisto, enquanto bebiamos e saboriávamos nostálgicamente o copo de água, duas Baratas daquelas de tamanho médio, aparecem de trás de um cesto de plástico e tornam-se visiveis, ali não muito distantes de nós.

         Apesar de termos quase certeza de estas terem sentido nossa presença ali por perto, o objectivo desses dois insectos era outro e bem mais forte e obsessivo, que, não se preocuparam absolutamente em ter medo algum.

         Nos momento seguintes, assistimos a uma cena, a que sinceramente, nunca haviamos tido a oportunidade de assistir em tanto pormenor: uma desavergonhada cena explicita de sexo entre insectos, neste caso, entre uma Barata e um Barato.

         O Barato prostrou-se, quase que paralizado, numa posição meia hirta, como se estivesse perdido, consumido lentamente por qualquer fogo invisivel, que o queimava algures em suas profundas entranhas (caso fosse Humano, quase diríamos: queimando-lhe o Cérebro ou a Alma!).

         A Dama Barata, depois de ter feito uma pequena ginga (dança de ancas e ventre, e asas) vibratória, arrancou directa ao macho ainda paralizado e deu-lhe uma espécie de leve encontro com a cabeca, na parte lateral do corpo daquele, quase como se fosse um choque eléctrico para o fazer despertar de qualquer sonho ou transe, para de seguida pôr-se enérgicamente à frente dele, numa posição mui provocadora, excitante até, diriamos! Ali, como se fosse um daqueles gigantescos aviões "Galaxy" abrindo amplamente a proa para cima, esta repuxou as duas asas para a frente, levantando-as completamente na direcção de sua cabeca, esperando assim atrair o macho, já meio acordado  (mas,tambem ainda um pouco aturdido, talvez pelo intenso ardôr de velado desejo!), depois do choque que esta lhe dera momentos antes. Repentinamente, como se fosse um insecto autómato (Robô) de corda, de um repentino impulso, este avançou para cima da Dama Barata e pum, num ápice, voltando rápidamente para a posição ocupada anteriormente, e tão velozmente que, quase não nos dava oportunidade de perceber ainda o que se estava na realidade a passar em tal caricata rara ocasião!... a nós que, como testemunhas inopurtunas, ainda não conseguiramos fechar a boca de espanto ou tão pouco, baixar o copo que, ainda continuava na posição meia horizontal, meia inclinada, de quando haviamos iniciado a beber a água, momentos atrás, como se tratasse de  um monóculo translúcido, para ver uma corrida de cavalos na pista ao longe ou um miniscúlo circo de pulgas em plena actividade!...

         Como se o que havia acontecido, nao tivesse sido do contentamento ou satisfação plena da Dama Barata, esta de um pulo, baixou as asas e deu umas duas voltas a si mesma, de forma ainda mais vibrante e intensa que antes e foi a todo o vapôr, nóvamente, na direção do abstracto e longinqúo Macho Barato que, talvez já achasse o acto consumado.

         De forma mais enérgica do que, na primeira vez, a Dama Barata atirou-se ao flanco do Barato e deu-lhe novo choque e seguidamente, como um raio colocou-se frente a frente com aquele, tocando-lhe na cabeça com a sua e com as antenas. Depois desta ligeira e rápida troca de toques no Macho aparvalhado e parado (a iniciativa era sempre dela), esta voltou para a posição de provacação adotada na primeira volta e voltando a fazer o mesmo movimanto de asas para a frente, como se tivesse despido o espartilho por completo e ás avessas, esperou por pouco tempo...

         O Macho quase não nos deixou piscar o olho de cansaço e pumba!... e desta feita, por muito mais tempo e zás, marcha à ré... e já estava tudo acabado, e bem feito, pela aparência feliz e repousada com que os dois desapareceram, sem nunca em momento algum, se terem preocupado com mosso impávido, despreparado, inesperado e boqui-aberto testemunho ou presença, da mesma maneira despreocupada com que apareceram...

         Agora, já nao basta as cenas semelhantes, meio embaraçosas, de banco de jardim, a que os fogosos tempos modernos nos obrigam a assistir, quanto mais duas Baratas agora e em nossa própria casa á nossa frente!!

         Olha que a mãe natureza tem cada uma, hein?...

Manuel de Sousa
29 de Março de 2001