ARTIGO QUE AJUDOU NA DECISÃO, DO RODRIGO DE SOUZA LEÃO
ENTREVISTA COM LEILA
ARTIGO DE GILBERTO DIMENSTEIN

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b a l a c o b a c o - A N O V - número 5 - PLaneta Terra - Rio DJ.
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27 de novembro de 2001

A CASA DOS POETAS

                por Rodrigo de Souza Leão

Que todo o artista é vaidoso e tem um ego nas alturas, isto não é novidade alguma. Mas não há tribo mais vaidosa e desunida do que a dos poetas. Uma vaidade e desunião que interfere até no crescimento da poesia no Brasil. Todo mundo quer ser antologiado. Quer ter seus livros publicados com facilidade. Mas o que os poetas fazem para que o seu trabalho se torne público?

É engraçado. Uma outra tribo, a dos atores, onde a vaidade é tãoa grande quanto, " reclama" diariamente da falta de incentivos e apoio do governo.

Poetas vivem reclamando mas são desunidos.

Poetas e atores! Os poetas não podem se dedicar apenas á poesia. Geralmente são professores, diplomatas, médicos, jornalistas. Tudo bem concordo que não deve ser uma profissão escrever versos. Mas os atores que reclamam tanto quanto os poetas vivem sob os holofotes da mídia e tem um sindicato forte. E muitas vezes, mesmo com egos "startrosféricos", ajudam-se e conseguem tanto a exposição que tem, quanto a verba necessária para realização de espetáculos.

Sem falar que existe uma renovação constante que faz com que os novos atores aprendam e os antigos se reciclem. O que há no panorama poético brasileiro? Alguns poetas isolados fazendo o seu trabalho e o divulgando bem, alheios ao que acontece ao resto. E outros dentro de igrejinhas. Com rituais próprios. Inexpugnáveis. Fazendo do ofício da poesia algo que só tem valor dentro do grupo ao qual está vinculado.

Tudo bem que o caráter intrínseco do fazer poético - um artesanato solitário -, transforma o poeta num artista com características próprias e diferente dos atores de cinema, teatro e televisão. Mas o isolamento na hora da produção não pode se refletir no momento de divulgação do produto literário.

Não quero um movimento que agregue a todos e nem um utópico paraíso literário que iguale A, B e C. A polêmica e a discussão são necessários. Apenas a falta de respeito é que deve ser combatida. Há incompreensão, falta de educação, desrespeito à trajetórias. Mas existe também uma enorme barreira para quem quer escrever de uma outra forma que não a vigente. Sempre foi assim? Os parnasianos foram massacrados. Não existia metáfora naquela poesia. Veio o modernismo e também não há mais tanta metáfora no poema. O que está impedindo que um novo movimento nasça? Dizer que não há metáfora mais?

Não tenho aqui o elixir ou as respostas para as indagações que fiz. Talvez este e-mail inútil sirva apenas para ir para o lixo de sua caixa postal, mas o que será que falta para que a poesia chegue aos mídia brasileiro.

Há os catastrofistas que se acomodaram em dizer que a poesia nunca será popular. Mas a letra de música é popular. Caetano é popular. Gil é popular. Vendem milhões. Os poetas (generalizando, o que é um perigo) vivem em briga por tiragens de três mil exemplares. É necessário brigar? brigar por uma política de incentivo á leitura. Incentivo á leitura de poesia. O poeta tem que gostar mais de poesia do que de ser poeta.

Antagonicamente aos catastrofistas existe muita gente dizendo que nunca esteve tão boa a poesia brasileira. Concordo que existe gente boa surgindo. Mas aonde estão os espaços de divulgação?. Temos alguns programas na TV paga e um na estatal. O Literatura, da TV SENAC, dirigido pelo Ricardo Soares que faz um trabalho muito bom na divulgação, mas só atinge o público que tem TV a cabo. Já o Vereda Literária tem uma difusão maior mas é um programa mais regional, com autores mineiros.

Concordo também que o poeta tem de ir aonde o povo está: isto se quiser mostrar o seu trabalho. Mas até alguns poetas renomados têm que pagar para publicar os seus livros. E o livro não chega aonde o leitor está.

A tudo isso podemos acrescer o fato de que um livro, se não vende x exemplares em um mês ou quinze dias, perde o lugar na vitrine da livraria. Da vitrine vai para a estante. Da estante volta para a editora.

Atores e poetas! É necessário rever a relação que existe entre o sucesso e o fracasso. Mesmo que não pensemos igual e você venha me criticar dizendo que "reclamar" é coisa de país capitalista de terceiro mundo. Por que você não tem coragem e se candidata para participar como o primeiro poeta naquele programa do SBT, A CASA DOS ARTISTAS 2. Ou poeta não é artista. Ou nenhum poeta votaria em outro? Ou temos que rever e mudar paradigmas vários!????? Alguém conseguiria conviver com um poeta por 45 dias?

PS.: Imaginem na CASA DOS POETAS o que aconteceria se reuníssemos alguns de nossos maiores nomes e tivessem que conviver por 45 dias na CLAUSURA. Quem seria o Alexandre Frota? O Supla? A Bárbara? O Mastronelli? Eu tive a idéia mas o poeta que quiser se candidatar primeiro pode ir no site do SBT e começar a campanha. Vem aí o CASA DOS ARTISTAS 2! Ou poeta não é artista?
 
 

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b a l a c o b a c o - A N O V - número 6 - Planeta Terra - Rio DJ.
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2 de dezembro de 2001

POETA QUER PARTICIPAR DA CASA DOS ARTISTAS 2

Depois daquele artigo intitulado a Casa de Poetas recebi um e-mail da poeta Leila Miccolis, dizendo que ela já havia se candidatado a participar da CASA DOS ARTISTAS 2. Como pedia coragem a quem quisesse se candidatar, não poderia deixar de registrar que a poeta tentará um lugar entre as feras. Espero que seja um expériência interessante e sirva para divulgar 'poesia. Apesar de crer que seja necessário formar um público leitor desde a infância com uma educação de qualidade, não vejo de forma negativa a tentativa de Leila. Espero apenas que leve para CASA DOS ARTISTAS alguma espécie de "plataforma poética" que nos ajude poetas brasileiros a receber o respeito que nos é devido.

Rodrigo de Souza Leão

LEILA MÍCCOLIS - Carioca, 25 livros editados (poesia e prosa), além de cerca de 100 antologias, e com obras publicadas na França, México, Colômbia, África, Estados Unidos e Portugal. É teatróloga, roteirista de cinema e escritora de novelas de televisão, entre elas: “Kananga do Japão”, “Barriga de Aluguel” e “Mandacaru”, elaborou verbetes para a “Enciclopédia de Literatura Brasileira” (MEC/OLAC) e também publicou: “Catálogo da Imprensa Alternativa”, 1986, pela RioArte/Prefeitª do RJ. Publicada na Revista Poesia Sempre nº 7 (Biblioteca Nacional/MEC), consta do Banco de Dados Informatizados do Banco Itaú - Módulo Literatura Brasileira, Setor Poesia (categoria: “Tendências Contemporâneas”) e dos “Cadernos Poesia Brasileira” - vol. 4, “Poesia Contemporânea”, editado pela mesma instituição, 1997. Seu livro reunindo sua obra quase completa, “Sangue Cenográfico” (Ed. Blocos, 1997) tem prefácios de Heloísa Buarque de Hollanda, Nélida Piñon, Gilberto Mendonça Teles, Ignácio de Loyolla Brandão. Sua obra é citada e analisada por escritores como: Affonso Romano de Sant’Anna (Ed. Vozes/1978), Glauco Mattoso (Ed. Brasiliense/1981), Jair Ferreira dos Santos (idem/1986), Assis Brasil (Ed. Imago/FBN/UMC, 1998). Co-edita com Urhacy Faustino: Blocos - Revista Cultural, impressa e pela Internet: <http://www.blocosonline.com.br/sitespes/lm/index.htm> mailto:<blocos@blocosonline.com.br.>
Tel.: 2634.0002 e 2634.0136 (Rio de Janeiro)

1.Como está se preparando para participar da CASA DOS ARTISTAS 2?

LM.: Eu não vejo muita necessidade de prepararação -- nem física nem mental; mas levo comigo, na bagagem, algum preparo de vivências coletivas e trabalhos em equipe (novelas escritas a quatro, e até a seis mãos), e muita disposição de chamar atenção para a literatura -- principalmente a poesia -- tão esquecida pelos canais de televisão e pelas outras mídias. Agora: é preciso ter coragem para encarar este desafio, até porque o poeta ainda é tido por muitos como um "ser fora da realidade" e a poesia, como "algo belo e sublime", imagem que pode chocar-se, a princípio, com a rotina de uma casa tão prosaica...

2.O que fará com a grana se vencer?

LM.: O que venho fazendo durante todos estes anos: aplicar em projetos culturais, ampliar nosso site, que já reúne quase 2.000 poetas, fora contistas, articulistas, cronistas, etc. (cerca de 15.000 páginas on line), investir, quem sabe até, na área de distribuição -- o ponto fraco das micro-editoras brasileiras, enfim: realizar alguns dos muitos planos que temos em mente neste setor.

3.Quais livros levará para a CASA?

LM.: Os da Blocos, naturalmente, mas, também a de poetas que eu gosto muito como Helena Kolody, Marly de Oliveira, Manuel Bandeira, Leminski, Nicolas Behr, Glauco Mattoso e muitos outros.

4.Qual seria a sua principal dificuldade?

LM.: Se não me dessem papel e caneta... risos...

5.Como vaio ser a campanha?

LM.: A Mariza Lourenço lançou meu nome, e, no mesmo dia, a Rosy Feros transcreveu o seu artigo, interessantíssimo pelo questionamento que suscita e pela audácia da proposta. A notícia tem se espalhado por listas e fóruns na Internet, e sei que muita gente já está votando em meu nome lá no site do SBT, dizendo que vai escrever carta, etc. Vejo este meu gesto como mais uma atitude polêmica que assumo em minha vida, mas, acho que pode dar muito IBOPE para a poesia, além de facilitar diversos projetos para quem, como eu, nunca esperou verbas governamentais ou investimentos da iniciativa privada para realizar nada, até hoje, sempre inventando soluções criativas para custear novas idéias.


A CHARADA DO SUPLA, por Gilberto Dimenstein

Origem: Folha de São Paulo de 02/12/2001

Perguntei a dirigentes dos três mais importantes institutos de opinião pública do Brasil -Datafolha, Ibope e Vox Populi- o que aconteceria se incluíssem nas pesquisas eleitorais o nome do roqueiro Supla como candidato
a presidente. Acostumados a medir os humores nacionais, eles responderam que, devido ao sucesso de "Casa dos Artistas" e à simpática imagem de Supla, teríamos, pela primeira vez, um roqueiro profissional transformado em presidenciável. Não se surpreenderiam caso ele surgisse na lista em posição melhor do que a de Tasso Jereissati, governador do Ceará, e não muito distante do ministro da Saúde, José Serra, hoje o principal candidato do PSDB. Essa enquete de brincadeira deve, porém, ser levada a sério.

E Supla brilharia na hipotética galeria de presidenciáveis não apenas pela audiência do programa ou pelo romance em tempo real. Entrou naquela casa para vender um CD ("O Charada Brasileiro") e, de quebra, arrumou uma namorada, com quem produziu uma inédita relação amorosa; nunca tanta gente, no Brasil, acompanhou de perto o cotidiano de um casal. No meio dos "vilões", ele aparece como um sujeito conciliador, pouco disposto a participar das tramas, incapaz de ser arrastado pelas baixarias. Mostra-se respeitoso com as mulheres, critica comentários racistas. Enfim, alguém responsável. Não parece estar encenando, transmite a sensação de que, se colocassem câmaras em sua verdadeira casa, talvez não se comportasse de maneira muito diferente.

A charada que Supla desvenda é a carência que os brasileiros sentem de responsabilidade, a percepção permanente de que somos ameaçados pela desconsideração pública e privada, desprotegidos numa comunidade raramente regida pelas leis -regida quase sempre pela lei do mais forte ou do mais esperto. Por conhecer esse sentimento, Silvio Santos não se incomoda em fraudar as regras para manter no ar o "vilão" Alexandre Frota. A própria televisão, que faz a fama de Supla, é um bom exemplo dessa sensação de orfandade -e, desta vez, pode-se medir isso com números.

O Ibope entrevistou 10 mil pessoas, espalhadas pelas principais capitais e cidades brasileiras, para avaliar a imagem da TV aberta. São números péssimos para as emissoras, metidas numa guerra cada vez mais feroz pela
audiência. Para 60% dos entrevistados, os programas apresentam sexo além do razoável; 67% reclamam do excesso de violência. Irritados com esses exageros, 59% deles pedem a intervenção do governo na programação; é uma atitude que muitos temem -e com razão, pois pode ser um estímulo à censura. O fato é que 79% (82% nas classes A e B) acham que as emissoras deveriam preocupar-se mais com as consequências do que transmitem. Acreditam que elas devam desempenhar um papel mais educativo. A tradução é simples  — goste-se dela ou não: na visão dos brasileiros, os meios de comunicação não são responsáveis e, por ganância, ultrapassam limites.

Existe pesquisa ainda mais desagradável para a mídia, preparada por Oriana White para sua tese de doutorado, a ser apresentada na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Foram entrevistados, no mês passado, 1.200 habitantes da cidade de São Paulo, nas classes A, B, C e D, na faixa dos 16 aos 39 anos de idade. Deles, 50% disseram que, em comparação com o ano anterior, gastam menos tempo assistindo aos programas deTV aberta. Talvez nem seja verdade, o indivíduo continua assistindo à TV tanto quanto antes. Mas talvez suas declarações também revelem desejo de mudança, movido pela insatisfação.

A TV não é, nem de longe, um alvo isolado do descrédito das pessoas. A leitura das mais diversas pesquisas de opinião sugere que todos os segmentos de poder estão, em maior ou menor grau, sofrendo cobranças. Quando se traçam, a partir das entrevistas, os perfis ideais dos candidatos, é detectado um eleitor mais "pé no chão": quer respostas menos fantasiosas para problemas concretos. No fundo, o que se cobra é apenas responsabilidade.

PS - O efeito Supla é levado bem a sério entre assessores de Marta Suplicy. Nos levantamentos de opinião feitos reservadamente para a prefeitura, o prestígio de Marta estaria melhor. Afirmam, como não poderia deixar de ser, que o serviço começa a aparecer. Mas consideram que a simpatia do filho roqueiro ajudou a mãe, responsável, em parte, por aquela obra.

Enviado por: Márcia Maia