Os amigos de nossos gatos


Que posso dizer sobre as minhas gatas, Leila?

Bom. Ganhei as duas no mesmo dia. Presente de grego, diria eu, algumas semanas depois. Ambas são rasga-saco com tomba-lata. Isabel é quase toda branca com manchas ou rajas, mas o que chama a atenção mesmo é a cor dos olhos de um verde fosforescente que nunca vi em outro gato até hoje.

Coloquei o nome de Isabel para homenagear a escritora Isabel Allende, a primeira escritora que guardei o nome depois de ler “A casa dos espíritos”. Eu tinha 14 anos e me apaixonei pelo livro. Bom. Feita a homenagem, posso dizer que Isabel tem seus apelidos (dependendo do meu estado de espírito), então é Isabel!!! Bebél, Bééééééll onde você se meteu?, Isabel Allende - como não podia deixar de ser -, Isabelita Perón - com sotaque e tudo - e outros tantos. Bom. Isabel chegou, arisca que só, demorou quase um ano para que ela perdesse o medo e sentasse ao meu lado.

Isabel tem cio psicológico, ou seja, a cada duas semanas é a miação geral. Já tentei castrá-la mas não havia santo que conseguisse pegá-la no colo por mais de dez segundos, então é na base do remedinho pra baixar os calores e depois de dois dias a casa está novamente em paz.

Patrícia ou Pitchi é pretinha com manchas brancas ou branca com manchas pretas. Seus olhos são amarelos e é mais calma que Isabel, porém chegou também com um problema. No início pensaram que era um resfriado, mas depois, com o tempo, verificou-se que ela padecia de um corrimento lacrimal. Hoje está sob controle.

O nome Patrícia veio do nada, olhei pra gatinha e achei que tinha cara de Patrícia e Patrícia ficou. Com certeza ela tb tem seus apelidos: Pitchi, Pitchulé, Pitchuleca, Pitchutchuca e derivados (também conforme meu humor).

Disse lá em cima que foi um presente de grego, né? Pois, explico. Na época em que as ganhei, eu estava num processo ruim com uma forte depressão e tinha duas gatas ariscas que mal olhavam para minha cara. Imaginou? Pois, além disso estava com sérios problemas financeiros e olhava pras duas e só pensava que tinha de comprar comida e areia e ficava naquelas de “ou elas ou eu” e acabava sempre comprando comida pra gato e areia sanitária. E, por fim, cada uma tinha lá seu problema, uma com cio psicológico e a outra com o corrimento lacrimal. E eu? Depressiva, com síndrome do pânico. Um trio pra lá de Bagdá. Não me agüentava comigo e ainda tinha de cuidar de duas felinas ariscas.

O tempo passou. A depressão se esvaiu pelo ralo do banheiro do consultório do meu psicólogo. Tive alta faz seis meses (só não sei ainda se foi por desistência do médico). Isabel já senta ao meu lado quando assisto DVD e pede carinho e fica deitadinha ao lado da minha cadeira quando estou no computador. Já consigo pegá-la no colo por quase um minuto.

Pitchi dorme comigo todas as noites (ela adora se enfiar em lugares escuros. Por isso quando não a encontro, sei que ela está ou sob o edredom, na cama, ou dentro da caixa de livros jurídicos). As duas me entendem tão bem que por vezes acho que eu é que fui domesticada por elas. E acredito que sem elas, minha recuperação da depressão não teria sido tão rápida.

Hoje não me vejo sem essas duas. São as filhas que a vida me privou, ou melhor, me presenteou.

O que mais? Sei lá. O que sei é que nos fazemos bem. Foi o melhor presente de grego que já ganhei.

Beijos,

Paula Cury